22.10.11

Se resultar deem o Nobel ao Gaspar


Na íntegra, mais em excelente texto de Nicolau Santos, hoje no Expresso, caderno Economia (sem link, recebido por mail). O realce é meu.

«Até 2013, a generalidade dos trabalhadores portugueses por conta de outrem vai perder entre 40% a 50% do seu rendimento e todos os seus ativos (casas, poupanças, etc.) vão sofrer uma desvalorização da mesma ordem de grandeza. Pergunto: alguém pensa que isto se fará de forma pacífica? Alguém pensa que o bom povo português aceitará mansamente este roubo? Alguém pensa que assistiremos bovinamente a este assalto? Repito: entre 2011 e 2013, o Governo toma medidas que lhe permitirão confiscar metade do que ganhamos hoje. É deste brutal esbulho que falamos e que está ao nível de decisões idênticas tomadas por governos da América Latina nos anos 80. É isto que está por trás da proposta de lei do Orçamento do Estado para 2012 e das decisões que o Governo já tomou em 2011. É sobre os escombros resultantes desta violentíssima e muito rápida pauperização da generalidade dos trabalhadores e quadros médios e superiores, públicos e privados, bem como dos reformados e pensionistas, que o ministro das Finanças espera que Portugal triunfe “como economia aberta e competitiva na Europa e no mundo” no final do programa de ajustamento. Faz sentido?

Como é óbvio, só quem ensaia soluções asséticas e perfeitas em laboratório é que pode imaginar que esta história terá um final feliz. O mantra do ministro das Finanças (para conhecer o pensamento de Vítor Gaspar ler o excelente artigo que Pedro Lains publicou no “Jornal de Negócios” de 19 de outubro) é tornar-nos a pequena China da Europa, assente em salários baixíssimos, sem subsídio de férias nem de Natal, relações laborais precarizadas, horários de trabalho flexíveis e menos férias e feriados.

Mas Gaspar quer ir mais longe. E assim a draconiana consolidação orçamental só será eficaz se, como diz, for acompanhada por uma agenda de transformação estrutural da economia portuguesa, nomeadamente um amplo programa de privatizações. O que quer isto dizer? Quer dizer vender ao preço da chuva e ao estrangeiro tudo o que seja empresa pública lucrativa ou participações do Estado em empresas, mesmo que elas constituam monopólios naturais; e não deixar na posse do Estado nem um único centro de decisão. Outros dois componentes fundamentais desta agenda de transformação estrutural são a “flexibilização do mercado de trabalho” (que nos permitirá trabalhar com regras cada vez mais próximas dos chineses) e a reforma do sistema judicial (de que, até agora, ainda não tivemos nenhuma notícia).

O tatcherismo serôdio do ministro das Finanças afirma-se pelo preconceito contra tudo o que é público e pela fezada de que colocando-nos todos a pão e água conseguiremos atingir os grandes equilíbrios macroeconómicos em 2014, partindo daí para uma fase de grande prosperidade. Mas será que o senhor não percebe que os melhores quadros do sector privado vão emigrar logo que puderem? Será que não percebe que os bons (e cada vez mais raros) quadros da Função Pública se passarão para o privado à primeira oportunidade? Não percebe que ninguém investirá um cêntimo a criar novas unidades produtivas em Portugal nos próximos anos (comprar empresas já existentes não acrescenta nada em matéria de emprego e de criação de riqueza, como é óbvio)? Não percebe que os jovens licenciados, muitíssimo bem formados, só pensam em ir trabalhar para o estrangeiro? Não percebe que há muito se passou o limite dos sacrifícios aceitáveis e que, a partir de agora, haverá uma resistência passiva destinada a iludir o fisco? Não percebe que a economia paralela se vai tornar mais pujante do que nunca e que essa é a única via para os portugueses sobreviverem a este esbulho de que estão a ser alvo?

Dir-se-á: mas havia alternativa? Havia desde que se quisesse e lutasse por ela. O programa de ajustamento da Irlanda vai até 2015. Não se percebe porque o nosso não pode ser também estendido no tempo. O défice para 2011 já foi corrigido em alta pela troika.

Porque é que não se luta para que também o de 2012 seja aumentado? Porque é que se quer impor esta insuportável dor social aos portugueses? E na questão do financiamento à economia, porque não se bate o Governo porque haja uma nova tranche (cerca de €20 mil a €30 mil milhões) para que o Governo pague às empresas públicas de transportes e estas aos bancos, que terão assim liquidez para financiar as pequenas e médias empresas?

Mas não. O que Gaspar quer é tornar a economia portuguesa competitiva através de uma violentíssima desvalorização por via salarial, pela maior recessão desde há 37 anos e por quebras do investimento e do consumo que não se verificam desde os anos 80. Se isto der resultado, deem-lhe o Nobel.»
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Este grande senhor faria hoje 90 anos

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Bem podia andar ainda por aí…


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Ministros ou mormons?


«O Governo quer que a Administração Pública seja "contagiada" pelo voluntariado.»
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Auditar - uma palavra a reter

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De mão em mão

- «Cá está a sexta tranche
- «Obrigado!»

(Daqui).

Bem a propósito...
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21.10.11

«Faz da casa uma trincheira» (Padre Mário da Lixa)


O padre Mário tem uma biografia que fala por ele, está activíssimo no Facebook e divulgou hoje este vídeo.


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Citações do dia (6)


«A eleição do dr. Cavaco Silva para Presidente da República foi uma das maiores desgraças que sucederam a Portugal e aos portugueses desde 2006.»
Vasco Pulido Valente, Uma desgraça (Público de hoje, sem link)

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«A direita que nos governa inventou um país de ficção para laboratório dos seus anseios de engenharia social e de experimentação económica. Se depois a realidade for trágica, culpa da realidade. Porque o que os livros que a direita que nos governa lê antecipam é a salvação, a ordem, a força. Tal como Friedman e os Chicago Boys no Chile de Pinochet, o que guia esta direita é uma fezada na recessão redentora (o "ciclo virtuoso", chamou-lhe Vítor Gaspar). (…)
A direita que nos governa está em estado de negação. Recusa-se a aceitar o que já toda a gente percebeu: que a realidade que as suas experiências nos trarão será de contínuo afundamento económico e de apodrecimento social.»
José Manuel Pureza, Laboratório Portugal

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«Derrubar um ditador é bem mais fácil que construir uma democracia, seja árabe ou outra qualquer.
E o desafio a sério para os rebeldes líbios começa após o cadáver de Kadhafi ter sido exibido. Entre um povo farto de ser governado pelos humores de um déspota durante quatro décadas não foi difícil encontrar quem pegasse em armas para importar a Primavera Árabe. (…)
À frente do Conselho Nacional de Transição (CNT), Mustafa Jalil é o rosto visível da nova liderança, um homem que surge sorridente a cumprimentar os estrangeiros que têm visitado a Líbia para saudar o derrube do coronel com quem meses antes faziam negócios. Mas Jalil foi ministro da Justiça de Kadhafi, e se a Human Rights Watch elogia a coragem com que criticava a polícia política do regime, há quem recorde que, como juiz, confirmou duas vezes a pena de morte para as enfermeiras búlgaras acusadas de infectar crianças com sida, o que todos sabiam ser mentira.»
Leonídio Paulo Ferreira, Eles só podem ser melhores que Kadhafi
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Assino por baixo

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Miguel Portas, hoje, sobre Europa, Líbia e ETA.


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ETA - «Ganham as urnas, perdem as balas» *


Texto da Declaración de ETA

Euskadi Ta Askatasuna, organización socialista revolucionaria vasca de liberación nacional, desea mediante esta Declaración dar a conocer su decisión:

ETA considera que la Conferencia Internacional celebrada recientemente en Euskal Herria es una iniciativa de gran trascendencia política. La resolución acordada reúne los ingredientes para una solución integral del conflicto y cuenta con el apoyo de amplios sectores de la sociedad vasca y de la comunidad internacional.

En Euskal Herria se está abriendo un nuevo tiempo político. Estamos ante una oportunidad histórica para dar una solución justa y democrática al secular conflicto político. Frente a la violencia y la represión, el diálogo y el acuerdo deben caracterizar el nuevo ciclo. El reconocimiento de Euskal Herria y el respeto a la voluntad popular deben prevalecer sobre la imposición. Ese es el deseo de la mayoría de la ciudadanía vasca.

La lucha de largos años ha creado esta oportunidad. No ha sido un camino fácil. La crudeza de la lucha se ha llevado a muchas compañeras y compañeros para siempre. Otros están sufriendo la cárcel o el exilio. Para ellos y ellas nuestro reconocimiento y más sentido homenaje.

En adelante, el camino tampoco será fácil. Ante la imposición que aún perdura, cada paso, cada logro, será fruto del esfuerzo y de la lucha de la ciudadanía vasca. A lo largo de estos años Euskal Herria ha acumulado la experiencia y fuerza necesaria para afrontar este camino y tiene también la determinación para hacerlo.

Es tiempo de mirar al futuro con esperanza. Es tiempo también de actuar con responsabilidad y valentía.

Por todo ello,

ETA ha decidido el cese definitivo de su actividad armada. ETA hace un llamamiento a los gobiernos de España y Francia para abrir un proceso de diálogo directo que tenga por objetivo la resolución de las consecuencias del conflicto y, así, la superación de la confrontación armada. ETA con esta declaración histórica muestra su compromiso claro, firme y definitivo.

ETA, por último, hace un llamamiento a la sociedad vasca para que se implique en este proceso de soluciones hasta construir un escenario de paz y libertad.

GORA EUSKAL HERRIA ASKATUTA! GORA EUSKAL HERRIA SOZIALISTA!
JO TA KE INDEPENDENTZIA ETA SOZIALISMOA LORTU ARTE!

En Euskal Herria, a 20 de octubre de 2011
Euskadi Ta Askatasuna
E.T.A.



(* Título de um texto de leitura recomendada (entre muitos outros possíveis), publicado em Público.es.)

Ler também: Viaje al fin de la violencia e o dossier de El País.
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20.10.11

Será...

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O que é um plátano?


Vivem no Brasil, há duas semanas vieram à procura do Tio Patinhas, ontem à noite chegaram a este blogue, às dezenas no espaço de uma ou duas horas (e ainda uns tantos durante o dia de hoje), porque queriam saber o que é um plátano.

E terão encontrado a resposta porque há mais de três anos, em tempos de inocência blogosférica, que já lá vão, tive uma transcendente querela com o João Tunes sobre a diferença entre bananas e plátanos (os frutos e não as árvores, claro…).

Expliquei então e confirmo: são mesmo coisas diferentes, o que é sabido na América Latina e só continuo a não perceber por que razão os espanhóis resolveram baralhar as coisas.

Mas o que gostava mesmo de saber hoje é por que é que tantas pessoas se interessaram de repente por este magnífico assunto, do outro lado do Atlântico, em 19 de Outubro deste ano da graça de 2011… Alguém me ajuda? Agradecida.

(P.S. – E se vinham à procura da árvore?...)
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Estamos entendidos?

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Avisos à (nossa) navegação


Na Grécia, regressa-se às terras herdadas de pais e avós para cultivar batatas, couves e fruta. É já a luta pela sobrevivência, num «ambiente que varia entre a ansiedade mitigada, o desespero declarado e um temor geral de que, por muito más que as coisas estejam hoje, amanhã venham a estar ainda piores».

O turismo já diminuiu em muitas regiões, lojas e restaurantes estão vazios, a taxa de desemprego oficial é de 20% (mas há quem aposte que já vai nos 35%), os cortes em salários e reformas são o que se sabe e o novo e temido imposto correspondente ao nosso IMI vai passar a ser cobrado na factura de electricidade (para bom entendedor…)

Etc., etc., etc.

Muito mais neste texto de The Independent. Com os olhos em Naxos.
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Não resta pedra sobre pedra, mas todos querem ser excepção

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Entretanto Assunção Esteves vai querendo tertúlias (indispensável ver o vídeo). Julguei que era notícia do Inimigo Público - juro!
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19.10.11

«O» discurso

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A dívida ou a vida


Disse que falaria com frequência de questões relacionadas com a necessidade de auditar as dívidas dos países e regresso ao assunto com uma entrevista a Eric Toussaint, autor, juntamente com Damien Millet, de La deuda o la vida (Editorial Icaria).

Excertos:

Cree que se ha aprendido algo de las enseñanzas de los 30 años de ajuste estructural en los países, por ejemplo, de América Latina?
Los gobiernos de Europa demuestran que no quieren sacar lecciones de los 30 años de neoliberalismo en América Latina. Desde la Comisión Europea (CE) a los gobiernos nacionales, y por supuesto, el Gobierno del Estado español, se implementan políticas de ajuste, de reducción del gasto público, que deprimen la demanda global y generan un crecimiento reducido o simplemente recesión. Incluso Alemania, que había logrado sacar ventaja de la situación porque había logrado tener un superávit comercial con los países de la periferia europea (Grecia, Portugal, España), ha entrado ahora en dificultades económicas. Toda Europa está implementando el mismo tipo de política y los modelos basados en lograr crecimiento a través de exportaciones no funcionan, más que nada porque todos hacen lo mismo. He estado cinco veces en América Latina y varios altos representantes de diferentes gobiernos me han preguntado: “¿Cómo es posible que los gobiernos de Europa no hayan sacado lecciones de nuestra experiencia y estén empeñados en repetir los mismos errores?”. (…)

Todo esto que cuenta me recuerda a aspectos que vivimos muy de cerca estos días.
Pues sí. Los acuerdos dictados por la troika (CE, FMI y BCE) a Grecia, Portugal e Irlanda son exacamente las medidas que se implementaron en América Latina durante las épocas del mandato de Carlos Menem en Argentina, medidas que desembocaron finalmente en el desastre y la rebelión de 2001, el famoso corralito. Europa está viviendo más o menos la situación de América Latina de la década de los 80 y los 90. La gente empieza ahora a entender el desastre que representa todo esto. Le costó años a América Latina levantar el vuelo. Espero que Europa no atraviese 10 o 15 años de neoliberalismo. Espero que gracias a la conciencia social, a la movilización de la ciudadanía, se va a dar un vuelco para cuestionar la legitimidad de la deuda pública, que aumenta porque se transfiere deuda privada a los gobiernos. (…)

¿Qué alternativas sugiere usted en su libro?

 Es necesaria una solución radical sobre el tema de la deuda pública a través de un proceso de auditoría para identificar la parte ilegítima y repudiarla; eso implica movilización social porque los gobiernos actuales no están para nada convencidos de ese camino.

Na íntegra AQUI.
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Ide e lede

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«Uma carta fora do baralho»

«Afinal, Portugal não é a Grécia. É o Chile. De há 30 anos. Não vamos apenas recuar no rendimento per capita, mas também na História, na integração europeia e, seguramente, na qualidade da democracia.»
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Um gosto moral


Partindo de um texto de Hannah Arendt, Luís Januário fala-nos de um grupo minoritário de judeus polacos de cultura alemã com «o denominador comum oculto» de «sempre se trataram como iguais – sem estender o tratamento a mais ninguém», numa «experiência basicamente simples de um mundo infantil em que se tomavam como pontos assentes o respeito mútuo e a confiança incondicional, uma humanidade universal e um desprezo quase ingénuo pelas convenções sociais e étnicas. O que os membros do grupo de iguais tinham em comum era aquilo a que podemos chamar gosto moral, algo muito diferente dos princípios morais».

E, daí, chega ao 15 de Outubro:

«Por vezes parece-me fácil: quando vejo os manifestantes deste 15 de Outubro, com quem desci uma avenida de Coimbra, por exemplo. Com alguns partilhei a infância. Outros são tão jovens que a trazem ainda consigo. E há na manifestação crianças e polícias barrigudos, mostrando que apesar de tudo se confia na democracia. O pacto social foi rompido há pouco e nas cidades de província ainda não houve tempo para aplicar as novas directivas. Só alguns jornalistas, pedindo sangue, mostram que já perceberam os sinais do tempo. Mas estes ruídos não me distraem da bondade da tarde. Um sol que acaricia, uma cidade deserta, ocupada por gente simples, que ainda não sabe desfilar. Não há agora, nas cidades de província, um lugar que represente o inimigo, onde se possa entregar um protesto ou uma petição. A câmara parece fechada para sempre. A esquadra da polícia perdeu a cor e confunde-se com as ruínas de uma torre que há 70 anos autoimplodiu. O governo civil foi extinto. Os bancos estão fechados e parecem descapitalizados. É como se a cidade tivesse perdido simultaneamente os seus habitantes conformados e o poder culpado. E este fosse um senhor feudal longínquo, que se conhece pela passagem frequente dos cobradores de impostos e uma aparição ritual nas cerimónias laicas. Ficam então estas caras que hoje parecem mais graves e com quem partilho um gosto moral. (…)
Temos de nos reconhecer, trocar sinais e de nos apoiar com abrigos wireless, alimentos, vinho, e iPads da última geração.»

Na íntegra AQUI.

P.S. - Já que o site do «i» está frequentemente offline por razões técnicas, coloco aqui o texto completo:

Atenas

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Em jeito de solidariedade.
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18.10.11

Citações do dia (5)


«A crise que vivemos é particularmente difícil de engolir porque não estamos a fazer sacrifícios em nome de nada. Não estamos a construir nada. Não estamos a investir em nada. Estamos apenas a pagar a agiotas e a repor desfalques.
O mínimo dos mínimos que podemos fazer é evitar que isto se repita. Podemos e devemos gritar na rua. Devemos exigir auditorias, a renegociação da dívida e fazer pressão sobre a União Europeia. Mas não nos podemos esquecer de adoptar uma causa qualquer, por pequena que seja, que garanta que esta indignidade não se repete. Uma das coisas que queremos certamente é transparência nas contas e na acção de quem fiscaliza as contas e responsabilização. Já que temos de pagar, paguemos para ver.»
José Vítor Malheiros, Pagar para ver (Público 18/10/2011, sem link)

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«Na entrevista de ontem, o ministro das finanças Vítor Gaspar fez-me lembrar um jogador de casino. Daqueles jogadores que, em desespero de causa, sentem um impulso súbito, uma espécie de intuição, um feeling. Começando a suspeitar que há qualquer coisa de errado nas perdas que foi somando (ao distribuir metodicamente, por várias jogadas, as fichas de que dispunha e dando assim conta que foi ficando cada vez com menos), decide subitamente apostar tudo, de uma só vez, no mesmo número de sempre. Confiando, portanto, que esse golpe de asa lhe trará o resultado mágico que ambiciona. Esperando que ventos de sorte o bafejem.»
Nuno Serra, Gaspar no casino

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«O único dos "25 mais ricos" que pagará a crise é o mais rico deles, o trabalhador Américo Amorim, que irá esfalfar-se mais meia hora por dia sem remuneração (por isso me pareceu vê-lo, de cartaz na mão, no meio dos "indignados"). Felizmente emprega na sua Corticeira 3 300 outros trabalhadores, que irão dar-lhe 1 650 horas diárias de trabalho gratuito, equivalentes a 206 trabalhadores de borla. Poderá assim despedir 206 dos que não se contentam com ter trabalho e ainda querem salário.»
Manuel António Pina, Não havia novo Governo?
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Banco de Portugal isento? Esta é que não!



Os funcionários públicos são as principais vítimas dos sinistros governantes que temos, eu e a minha entidade patronal confiámos ao Estado balúrdios em descontos e ele falta aos compromissos que comigo assumiu como aposentada (ou lá o que sou…), o governo autoriza os patrões a meia hora diária de trabalho gratuito (sim, a isso chama-se escravatura), etc., etc., etc.

Mas há alguns (e logo eles: Cavaco, Constâncio e multidões de outros) que, Ministro das Finanças dixit, têm «um estatuto especial dada a sua participação no Eurosistema e as garantias de independência estabelecidas nos tratados». Como se as nossas «garantias» estivessem ser respeitadas, como se os tratados europeus ainda fossem respeitáveis!

O Tribunal Constitucional deve ter metido um atestado médico colectivo e a realidade, nua e crua, é que já deixámos de viver num Estado de direito, assumida e descaradamente. E com esta mania de ultrapassarmos as exigências da troika, acabaremos por roubar à Grécia o primeiro lugar no pódio.
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Com dedicatória ao nosso (des)governo

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(Via Daniel Oliveira no Facebook)
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Mãos de barro


Esta imagem já passou por este blogue, mas hoje circulou pelo Facebook sem nenhum motivo especial.

Assim que a revi, pareceu-me perfeita para resumir as duas homilias que Vítor Gaspar fez ontem ao país.
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17.10.11

Black Power Salute


Em 17 de Outubro de 1968, nos Jogos Olímpicos do México.


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Um país deve pagar a sua dívida?


Mais um texto importante de Damien Millet e Eric Toussaint sobre diversos assuntos relacionados com uma questão que está – e estará cada vez mais – na ordem do dia: a necessidade de auditar as dívidas dos países. É um dos temas permanentes nas minhas leituras actuais.

Alguns excertos e conselho de leitura na íntegra.

«Antigamente, havia, o Primeiro Mundo, o “Norte”, supostamente constituído por um bloco de prosperidade; o Segundo Mundo, aquele dos países soviéticos; e, por fim, o Terceiro Mundo, reagrupando os países pobres do Sul e submetidos desde os anos 1980 às regras do FMI. O segundo desapareceu no início dos anos 1990 com a dissolução da União Soviética. Com a crise financeira de 2008, o Primeiro Mundo se transformou, tanto que actualmente nenhuma divisão geográfica parece pertinente. (…)

Uma das consequências inesperadas da crise foi permitir aos bancos da Europa Ocidental, sobretudo franceses e alemães, o uso de fundos emprestados pela Reserva Federal e pelo BCE para aumentar, entre 2007 e 2009, sua exposição em diversos países (Grécia, Irlanda, Portugal, Espanha) e realizar vultosos lucros. Entre Junho de 2007 (início da crise dos subprimes) e Setembro de 2008 (falência do Lehman Brothers), os empréstimos dos bancos privados da Europa Ocidental para a Grécia aumentaram 33%, passando de 120 bilhões para 160 bilhões de euros.
Na primavera de 2010, enquanto fortes turbulências sacudiam a zona do euro, o BCE emprestava a taxas vantajosas de 1% aos bancos privados. Estes, ao contrário, exigem de países como a Grécia uma remuneração bem superior: entre 4% e 5% para empréstimos de uma duração de três meses e cerca de 12% para títulos de dez anos. (…)

Tal esquema merece ser perenizado de maneira obstinada? Afinal, se os bancos exigem uma remuneração que leve em conta o “risco de default”, não seria mais coerente visualizar uma suspensão dos pagamentos, ou ainda anular as dívidas julgadas ilegítimas? Em geral, mencionar tal opção desperta de imediato previsões de caos ao qual necessariamente ela conduziria: um “cenário de horror”, estima Christian Noyer, presidente do Banco da França. Mas, do ponto de vista das populações, o “cenário de horror” não seria pôr em prática os programas de austeridade anunciados? (…)

Uma alternativa, no entanto, é possível tanto para o Norte como para o Sul. Ao longo dos últimos dez anos, alguns países optaram por suspender o pagamento e anular uma parte da dívida: a Argentina em 2001 (graças a uma suspensão dos pagamentos durante três anos, ela impôs a seus credores privados uma redução de mais de metade de sua dívida em 2005) ou, mais recentemente, o Equador (…) Entre 2003 e 2010, a Argentina registrou uma taxa média de crescimento anual de mais de 8%. A suspensão dos pagamentos não levou obrigatoriamente ao cataclismo prometido pelas Cassandras da dívida. (…)

Em 2007, sete meses depois de ter sido eleito, o presidente equatoriano Rafael Correa realizou uma auditoria da dívida do país. As conclusões mostraram que houve violação das regras elementares do direito internacional em numerosos empréstimos concedidos. Em Novembro de 2008, o Equador decidiu suspender o reembolso de títulos da dívida com vencimento em 2012 e em 2030.

Com essa operação, esse país conseguiu retomar títulos cujo valor total era de US$ 3,2 bilhões por US$ 900 milhões. Se levarmos em conta os juros que o Equador não terá de pagar, uma vez que houve a recompra de títulos que venceriam em 2012 e em 2030, o Tesouro Público equatoriano fez uma economia de US$ 7 bilhões. Isso permitiu o desbloqueio de novos recursos financeiros e, por consequência, o aumento das despesas sociais na saúde, na educação, na assistência social e no desenvolvimento de infra-estrutura e da comunicação.»
(O realce é meu.)
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O rei vai nu


Há por aí muita gente admirada com um texto publicado ontem, no DN, por Pedro Marques Lopes – «O PEC final» – (e também com as suas afirmações no último «Eixo do Mal»). Primeiro, o espanto virá de não conhecerem PML (o que não é o meu caso), pessoa que não se verga nem mesmo a quem apoia ou apoiou. Segundo, contra factos já começa a não valer a pena procurar argumentos.

«Um dos mais ouvidos comentários na fatídica noite de quinta-feira foi o de apelidar de corajosas as medidas anunciadas pelo primeiro-ministro. Presumo que as pessoas que o fizeram também chamariam a um indivíduo que se atirasse para um precipício de corajoso.

Também ouvi várias pessoas a afirmar que, sim senhor, as medidas são duríssimas. Irão conduzir a mais recessão, provocarão falências em catadupa, farão que o desemprego suba para números impensáveis, resumindo: destruirão a já muito débil economia portuguesa. Porém, segundo estes, não havia alternativa. Não deixa de ser um raciocínio interessante. É assim como dizer a alguém: "Olha, não tens outra hipótese que não seja dares um tiro na cabeça."»

Ler o resto AQUI.
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O PS e o OE


«Se o PS se abstivesse no Orçamento estaria a dizer que nada conseguiria fazer diferente. Perante as medidas adicionais, se se abstiver é melhor fechar a loja! A sua responsabilidade primeira é representar os seus eleitores, não é ser mandatário da troika. Muito menos será caucionar um Governo ultraliberal que vai muitíssimo além do acordo.»

André Freire, no Público de hoje (sem link)

(Como se o próprio André Freire acreditasse no voto dos socialistas contra o OE!...)

P.S. - André Freire deixou-me o seguinte comentário no Facebook: «Sim, acredito que é possível convencer o PS a evitar o suicídio político... senão não o escreveria.»
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16.10.11

Da paciência


Não sei se ainda se diz «Tenha paciência!», mas era o que ouvia a minha mãe responder a um qualquer «pobrezinho» que pedisse uma esmola que ela entendia recusar. Ou seja, e indo ao sentido etimológico do termo: «Aguente, sofra!»

Por definição, pede-se ao paciente que não resista e que não reaja, que fique calmo e que cale a raiva.

Leio hoje que George Papandreou exorta os gregos a serem pacientes e a aceitarem os novos cortes anunciados pelo seu governo. Que aguentem e que sofram, portanto. Como se o pedisse pela primeira vez e como se acreditasse – e não acredita – estar a fazê-lo pela última. Isto tem de ter um fim. A dor daquela gente já nem cabe no jornal.
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Para a história de um dia (2)


Madrid

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Razões do PCP que a (minha) razão desconhece


Vi militantes deste partido ontem pelas ruas de Lisboa, é certo, encontrei um ou outro muito tímido anúncio da manifestação em blogues afectos, mas deve-me ter escapado algum incentivo à participação numa grande iniciativa «unitária» como a de ontem - uma nota de pé de página no Avante! ou assim…

E se alguém conseguir explicar-me por que razão, «socialista e patriótica», se marca este desfile para três dias depois, eu fico muito agradecida.
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Para a história de um dia

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(Fotos de Paulete Matos)
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