1.9.12

Pioneiro




Gérard Zlotykamien foi um dos pioneiros da street art e ainda não parou, Neste vídeo, recicla colchões.  

(Daqui)

Agosto, 31



O último dia do mês foi fértil em emoções e faz prever uma bela rentrée.

A telenovela RTP viveu mais um episódio com o regresso de Relvas de Timor e a imediata demissão dos administradores da (ainda) estação pública ade televisão, umas dezenas de milhares de professores não colocados iniciaram um fim-de-semana tenebroso, ficou a saber-se que o desemprego não tem tendência para descer mas muito pelo contrário, e alguns políticos «desmultiplicaram-se» em afirmações mais ou menos retumbantes: Cavaco Silva disse, sem gaguejar, que «Instituições internacionais e troika devem rever aquilo em que falharam», Portas afirmou que «vai ser preciso um esforço para recuperar o sentido de compromisso que PSD e CDS demonstraram quando negociaram o programa do Governo». E julgo que Passos Coelho não disse nada, o que foi excelente.

Quanto aos elementos da troika, devem andar por aí de balaclava, numa tentativa de perceberem o sarilho em que nos meteram.

Mas três partidos ─ PSD, PS e Bloco ─ estão reunidos em promissoras universidades de Verão, ou coisa parecida, e todos fizeram questão de convidar oradores uns dos outros, numa demonstração de abertura e procura de «consensos». Touchée.

Além disso, houve Lua Azul, as praias estão cheias, a época das transferências fechou bem, com alguns milhões de euros desembolsados e embolsados em importações e exportações de jogadores, e os sportinguistas estão felizes porque ganharam 5-0 não sei exactamente a quem. 

Portanto, apesar de tudo, parece que «tout va très bien, madame la Marquise», como não deixaria de recordar Pacheco Pereira.
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Setembro



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Era bom, era!


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31.8.12

O Pior do Crato

Unicamente por causa da desordem crescente



Unicamente por causa da desordem crescente
Nas nossas cidades com suas lutas de classes
Alguns de nós nestes anos decidimos
Não mais falar dos grandes portos, da neve nos telhados, das mulheres,
Do perfume das maçãs maduras na despensa, das impressões da carne,
De tudo o que faz o homem redondo e humano, mas
Falar só da desordem
E portanto ser parciais, secos, enfadonhos, enfronhados nos negócios
Da política, e no átrio e «indigno» vocabulário
Da economia dialéctica,
Para que esta terrível pesada promiscuidade
Das quedas da neve (elas não são só frias, nós bem o sabemos),
Da exploração, da tentação da carne e da justiça de classes,
Não nos leve à aceitação deste mundo tão diverso
Nem ao prazer das contradições de uma vida tão sangrenta.

Vocês entendem.

Bertolt Brecht 
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A «dispensa» de António Hespanha




O «Prós e Contras» em causa é este.

O próprio António Hespanha explica-se no seu blogue:

Deixei de ser docente da UAL 

Para os meus ex-alunos de 2011-2012 na Universidade Autónoma de Lisboa (UAL)

Deixei de ser professor da UAL. Inesperadamente e pela calada das férias, a direção mandou-me dizer, por carta de entreposta pessoa, que punha fim à minha colaboração. As justificações apresentadas são fantasiosas e vazias, pelo que é seguro que há outras, porventura relacionadas com uma brevíssima crítica que formulei, num “Prós e contras” em que se comparava a qualidade dos setores público e privado. A propósito, referi a falta de uma política de investimento científico e académico do ensino superior privado em geral (nem sequer referi a UAL) e a consequente dependência em que isso o coloca perante o ensino público. Esta opinião é, de resto, favorável à real autonomia e a um desenvolvimento correto e sustentado das universidades privadas, como hoje está patente, pela positiva – veja-se o caso da Universidade Católica - e pela negativa. De há muito que legitimamente a tenho e a exprimo. E, nos anos em que trabalhei na UAL (mais de dez), muitos esforços fiz: para trazer à Universidade pessoas que a prestigiassem; para dar ao meu ensino a melhor qualidade possível, para o inovar; para me ocupar pessoalmente (e não por intermédio de assistentes ou de colaboradores) das tarefas de ensino e de avaliação; para promover um contacto direto dom os alunos, por meio de blogues ((http://amh-hespanhol.blogspot.pt/; para o ano que vem, já tinha on line, há mais de um mês, blogs relativos às novas disciplinas, com programas e calendários: http://ua-hi-2013.blogspot.pt/ , http://ua-2013-te.blogspot.pt/. De modo a que nunca se pudesse dizer que fazia ali um ensino de segunda, em relação ao que fazia na Universidade pública. Colegas e alunos reconheceram isso e disso me deram testemunhos frequentes.

Enfim, nada disto contou, perante a vontade de quem – por razões que ignoro ou prefiro ignorar – não me queria na UAL. Sei que este desfecho foi promovido apenas por alguns, que conseguiram levar avante a sua decisão. Não envolvo, por isso, nele, nem toda a direção, nem os restantes órgãos da Universidade, nem os meus Colegas de Departamentos, nem os funcionários, nem os estudantes. Creio bem que muitos destes se sentirão muito incómodos por isto acontecer, ainda que – por razões que se compreenderão – se mantenham discretos. Em algumas instituições da nossa vida pública e privada, vai sendo muito penalizador dizer-se o que se pensa, mesmo em instituições em que a verdade e a liberdade deviam estar antes de tudo, como é o caso das Universidades.

Pode ser que nos encontremos em outros lugares e que possamos retomar diálogos proveitosos e de boa memória.

Abraços amigos.

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Os portugueses desistem, os imigrantes também



Este título ─ Para os imigrantes o importante é voltar a Angola com uma formação ─ reflecte não só a ambição mais do que legítima daqueles que vieram em busca de uma vida melhor e que agora verificam que existem oportunidades para profissionais qualificados no seu país, mas, também, a triste situação do nosso.

Uma senhora que me ajuda cá em casa algumas horas por semana, angolana que acabou há semanas a licenciatura em Enfermagem, parte esta noite para Luanda para decidir se por lá fica ou se regressa para fazer o mestrado e parte depois. Uma brasileira, que toma conta de um pequeno restaurante onde almoço às vezes, tem hoje o seu último dia de trabalho porque volta amanhã para Minas Gerais: «Aprendi muito aqui, mas já não dá. Fiz o 11º ano em hotelaria e vou aproveitar para encontrar uma situação muito melhor por lá.» Inquéritos feitos recentemente a estudantes universitários portugueses apuram que 69% pensa que terá de emigrar.

Ou seja: temos todas as dificuldades que sabemos, mas damo-nos ao luxo de deitarmos pela borda fora o investimento que fazemos em nós e naqueles que nos procuraram em tempos menos negros, porque (ó espanto dos espantos!...) o desemprego não cessa de crescer. 

A grande maioria dos universitários não vê outro horizonte que não veja a emigração, muitos imigrantes formam-se cá e vão-se embora a seguir, para os seus países ou para a Europa mais a Norte.
Deve ser este o sonho húmido de Nuno Crato: ter o país povoado por jovens carpinteiros, canalizadores e padeiros, «castigados» porque não tiveram condições sociais para chegar às universidades, e continuar a ver-se livre dos outros que só pioram as percentagens decentes do desemprego.

Isto, claro, enquanto o «canalizador português» não substituir o polaco e não começar também a mourejar por essa Europa fora. 

Triste mas evidente sina a nossa!...
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30.8.12

As Cidades e as Praças (40)





Praça do Peixe, (Bergen, 2011)

(Para ver toda a série «As Cidades e as Praças», clicar na etiqueta «PRAÇAS».)
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O nosso Midas



«O ministro Relvas é o contrário do Rei Midas. Em vez de ouro, tudo aquilo em que ele toca fica transformado numa espessa trapalhada cor de chumbo.»  

Viriato Soromenho-Marques

Manuel Loff: Difamação


Tendo publicado (aqui e aqui) os dois primeiros textos de Manuel Loff, inscritos na polémica com Rui Ramos, que não sei está ou não a chegar ao fim, faço o mesmo ao terceiro (divulgado no Público de hoje). 

O debate de ideias não é fácil. E menos ainda quando se o procura evitar arrastando-o para um terreno que se pretende descrever como moral, quase judicial. Rui Ramos (RR), coordenador da História de Portugal que o Expresso que o decidiu oferecer aos seus leitores e que eu critiquei, na parte que lhe cabe, nas minhas duas últimas crónicas no PÚBLICO (2 e 16 de agosto), queixava-se há dois anos de que “vivemos num mundo muito diferente do que eu vivi em Inglaterra ou em Espanha, onde nos mesmos seminários, congressos e departamentos convivem pessoas com ideias muito diferentes, discutindo acalorada ou friamente, mas debatendo ou divergindo” (PÚBLICO, 31.5.2010). Ramos reagira assim quando, no PÚBLICO, São José Almeida o confrontou com as opiniões de vários historiadores (F. Rosas, A. Costa Pinto, M. de Lucena, I. Pimentel, eu próprio, com quem ele, mal ou bem, tem convivido em congressos, júris, comités), entre as quais se formularam críticas mais duras do que aquelas que eu agora dirigi ao seu trabalho.

O debate em torno do livro em questão não é novo e não surgiu do nada. A RR não se lhe ocorreu então de falar de “um simples caso de difamação pessoal”, de “desfaçatez”, de “calúnias” e “falsidades” — tudo epítetos com que me brinda hoje, evitando tratar-me pelo nome e chamando-me “um colunista quinzenal” do PÚBLICO, negando tratar-se de “uma polémica historiográfica ou [de] uma questão de opiniões”. Pela minha parte, habituado a que estou a que se use a tática da vitimização para desviar o debate, não alimentarei semelhante estratégia respondendo a tais epítetos — mas confesso achar que será fácil ao leitor perceber, como quase sempre acontece nestas situações, como todos eles poderiam recair sobre o seu autor...

É, no mínimo, excêntrico que RR gaste uma página inteira deste jornal para responder a “acusações” — a expressão é usada três vezes — “tão absurdas que não deveriam merecer resposta”. E, contudo, quem, como ele diz de si próprio, “há 7 anos que escrev[e] na imprensa semanalmente e particip[a] em programas de TV”, deve saber submeter-se à mesma crítica pública a que sujeita, como ele tem sujeitado, os outros. Sobretudo se publica resultados da sua investigação sob a forma de livro: nessas vestes, sabe que está sujeito ao contraditório e ao debate, regra intrínseca à produção de conhecimento que se pretende científico. E esse debate, mesmo que desenvolvido num jornal e não numa revista especializada, faz-se sempre com um mínimo de regras metodológicas simples, que passam por citar rigorosamente o que se pretende contradizer/discutir — o que fiz com tudo quanto de RR citei, ao contrário do procedimento (esse, sim, manipulador) que ele seguiu para se referir às minhas críticas, evitando fazer citações diretas e permitindo-se, assim, atribuir-me o que não escrevi. Ramos caricatura os meus argumentos e quer responder à caricatura. Se tal fosse admissível seria fácil, mas as minhas crónicas não foram escritas no Inimigo Público...

RR inventa até que eu lhe teria chamado fascista por escrever o que escreveu — adjetivo (com aspas, como se de uma citação minha se tratasse!) que usa três vezes na sua resposta. Imagino que queira arrastar-me para alguma alucinação sua de 1975, mas não o sigo. RR não precisa de ser fascista para ser um empenhado relativizador da leitura histórica da ditadura salazarista, que procura há anos desmontar a natureza ditatorial do Estado Novo para a tornar banal, comum, no contexto histórico em que ela se desenvolveu, usando argumentos que se conhecem há muito na Alemanha, em Itália, em Espanha, em França, entre outros, para relativizar experiências ditatoriais sobre cuja condenação se baseiam as democracias contemporâneas europeias, procurando branquear a imagem das ditaduras, quer reduzindo o seu peso histórico específico, quer contaminando todas as outras experiências políticas contemporâneas com a mesma suspeição moral. Há 15 anos que estudo este fenómeno; nada do que Ramos escreve me parece novo.


Passado e presente?


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29.8.12

Rain & Tears

Mas será que ninguém sabe fazer previsões neste país?



Depois do espanto com o aumento do desemprego e da derrapagem orçamental por haver menos cobrança de impostos do que previsto, vem agora a (inesperada?) diminuição de passageiros no metropolitano e nos transportes fluviais de Lisboa, atribuída ao aumento dos preços e à redução dos descontos para idosos.

Alerta-se para «o impacto que a redução da procura pode ter nas receitas das transportadoras», a que «se seguirá uma degradação da qualidade do serviço de que será extremamente difícil recuperar».

Note-se que não estamos a falar de peanuts: no metro, terão viajado menos 5,9 milhões de passageiros no segundo trimestre de 2012, em comparação com período homólogo do ano passado, o que, em números redondos, dá cerca de menos 66.000 pessoas por dia.

Para além dos custos sociais de tudo isto, nomeadamente para os idosos ─ grupo em que se registou a maior quebra e para o qual a Câmara Municipal de Lisboa vai tentar inventar uma ajuda ─ fica-se com a sensação de que se vai de asneira em asneira, com medidas avulsas, mais gravosas umas do que as anteriores. Depois tenta-se remendá-las abrindo, fatalmente, outros buracos. E assim, sucessivamente, sem cessar! Até?...

Fonte: Público, sem link, via Cidadania LX.

(Foto: Paulete Matos)
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Lisboa



Foto de Stanley Kubrick, Castelo de S.Jorge, 1948
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Taxas: e se a moda pega?



Não é bem um raciocínio pelo absurdo, mas não anda muito longe e serve para o efeito.

Imaginemos que o governo decide um dia concessionar um dos seus grandes hospitais públicos, Santa Maria em Lisboa ou São João no Porto, por exemplo, e que passa a cobrar-nos uma taxa na conta da água para que seja assegurado o serviço público que entender definir. Ou que concessiona o Tribunal Constitucional (why not, os privados não são sempre mais eficientes?) e cria um imposto especial que soma ao IMI. Ou que decide não vender a TAP, mas «alugá-la» por umas décadas, e nos aumenta o imposto de circulação automóvel. E por aí fora.

Tudo absurdo? Mas porquê? O caso da RTP é diferente só porque já pagamos uma taxa desde 2004 (até aí, só a RDP era contemplada)? Se já nem se entende por que o fazemos agora (não existem impostos para garantir serviços públicos?), não ultrapassa mesmo os limites do absurdo que ela se mantenha na hipotética solução Borges, Relvas & Companhia? 

(Sugerido pela leitura disto no DN
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28.8.12

Ai, Timor...




Se tivesse lido Pessoa, teria acrescentado: «O vosso petróleo é a língua portuguesa» (ou vice-versa, tanto faz). Merecemos tanto???

(Foto: Carla Luís, em Timor)
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Um novo herói nacional



Um português foi ao bolso da troika. 

«Como um carteiristas descreveria o furto da carteira do chefe da missão da troika em Portugal: “O ‘guiro’ (turista) estava no ‘fatio’ (paragem prometedora de bons resultados) e parecia ter ‘brasa’ (carteira recheada). Quando entrou na ‘montada’ (eléctrico ou autocarro) fizemos o ‘tampão’ (um dos carteiristas provoca confusão à entrada do eléctrico, distraindo o turista), usei a ‘muleta’ (mapa, saco ou casaco usado para esconder a mão que vai ao bolso da vítima) e saquei o ‘cabedal’ (carteira). “»
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A Unilever e a menina Etelvina



A notícia veio ontem em todos os jornais: a Unilever anunciou ao mundo, via Financial Times, que «a pobreza está a regressar à Europa» e que, por esse motivo, vai vender os seus produtos em embalagens muito mais pequenas. (Viragem de 180º quando as prateleiras estão cheias de caixas enormes que anunciam «mais 25% grátis», mas adiante.) 

É impressão minha ou a demagogia do marketing não tem limites? Ou, então, está a prever-se que os europeus venham a ser pagos, (mal, evidentemente...) já não ao mês, mas talvez à semana ou mesmo à jorna. Comprarão o champô para uma lavagem, desodorizante para uma tarde e pensarão duas vezes antes de armazenarem na despensa dois sabonetes que terão as dimensões daqueles que nos dão nos hotéis. 

Perceber que pode dar jeito, a quem tem o porta-moedas pouco recheado, comprar pontualmente metade da dose do que é habitual é uma coisa, lançar uma campanha generalizada, nestes termos, por causa do empobrecimento deste velho continente é uma outra. Acredita-se mesmo que, na Europa, é assim que se ajuda a resolver o problema da falta de dinheiro ou que se combate uma mentalidade consumista? Quantas etapas diferentes não haveria / haverá a percorrer? Não se entende que esta fase de «empobrecimento» é diferente do processo que está a tornar certos bens acessíveis a quem nunca os teve, na Ásia ou em África? E alguém já pensou, por exemplo, na produção e utilização adicional em embalagens, que uma decisão destas implica, com o impacto mais do que provável em termos ambientais?

Enfim, tudo isto me lembra a menina Etelvina. A menina Etelvina devia andar pelos 85 quando a conheci, viveu sempre numa vila «da província» e, em plena década de 80, lamentava-se amargamente porque, na mercearia, já ninguém lhe vendia 100 gramas de manteiga em embrulho de papel vegetal, nem 50 gramas de açúcar, como sempre tinha comprado, em cada dia da sua longa vida. Porquê? Porque era assim que sempre tinha sido e que devia ser, para se poupar.

Se a menina Etelvina ainda fosse viva, seria uma fã da Unilever.

P.S. – A propósito do tema, ler a crónica de Ferreira Fernandes no DN
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Há 49 anos



Em 28 de Agosto de 1963, Martin Luther King pronunciou este seu célebre discurso, durante a «March on Washignton for Jobs and Freedom»



Ver também o vídeo sobre a Marcha

«Um dos mais angustiosos problemas da nossa experiência humana é o de verificar como são poucos ─ se alguns houver ─ os que conseguem ver realizadas as suas esperanças mais queridas. As esperanças da nossa infância e as promessas da nossa maturidade são sinfonias incompletas. Um quadro célebre de Georges Frederic Watts representa a Esperança como uma tranquila figura de mulher, sentada sobre o nosso planeta, a cabeça inclinada tristemente, a tanger a única corda inteira duma harpa. Haverá algum de nós que tenha experimentado a agonia das esperanças perdidas ou dos sonhos desfeitos?»

Martin Luther King, jr, Força para amar.
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Universidades, 20 anos depois


Em Le Monde Diplomatique (versão portuguesa), mais um excelente texto de Sandra Monteiro.  

«Uma vez mais, do ensino superior público chegam profundas preocupações com o futuro, já no próximo ano lectivo. Vai-se difundindo uma narrativa segundo a qual a situação do sector resulta da grave crise que o país atravessa, aconselhando solidariedade com os cortes e sacrifícios exigidos. Mas o presente não chegou de repente. Foi preparado, pelo menos, durante as duas últimas décadas. E as mudanças que foram introduzidas no ensino superior público são muito ilustrativas do ponto a que haveríamos de chegar. 

Passaram vinte anos desde que, a 14 de Agosto de 1992, foi publicada no Diário da República a Lei n.° 20/92, que aumentou as propinas no ensino superior público. A contestação estudantil que se verificou antes e depois da promulgação da lei foi um espaço central de exercício de cidadania e de politização de toda uma geração. Adiou durante quase dez anos a aplicação das concepções neoliberais a este grau de ensino. Mas não conseguiu impedir um rumo que continua a ter expressão internacional, como recentemente se viu no Chile, em Espanha ou no Canadá.

Depois da lei de 1992, o ensino superior deixou de ser tratado como um direito de acesso universal e gratuito, assegurado por um serviço público que urgia democratizar, para elevar o baixíssimo nível de qualificações dos portugueses (ainda hoje é baixo, apesar da evolução). O montante pago pelos estudantes foi subindo e ultrapassou agora a barreira dos mil euros; a qualidade do ensino e a acção social escolar nem por isso aumentaram; o destino das receitas das propinas foi substituindo as dotações do orçamento de Estado, até para pagar as mais básicas despesas de funcionamento, como os salários.

Os argumentos dos defensores do novo modelo não resistiram à prova do tempo e da realidade. O co-financiamento dos custos do ensino pelos estudantes e suas famílias, além de desresponsabilizar o Estado, sobrecarregou duplamente quem já contribuíra por via fiscal para o financiamento público e encetou uma corrida a parcerias com investidores externos que transporta para as universidades perigosas lógicas de mercadorização do ensino e dos saberes.

As famílias com estudantes no ensino superior público estão numa situação muito desfavorável no contexto internacional: tendo em conta os rendimentos medianos do país, fazem um esforço que apenas é superado pelo que é feito no México, Japão, Austrália e Estados Unidos.» 

Continuar a ler AQUI.
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Nunca desistir


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27.8.12

O polvo



«Está a comer-se a si próprio, até acabar por morrer, um polvo de um aquário público de Berlim. Devora-se à velocidade diária de meia polegada.
O polvo começou a comportar-se de maneira estranha há cerca de dez dias, e dois dos seus tentáculos já se encontram devorados até meio. Espera-se que acabe por morrer, meio comido por si mesmo.
A razão do comportamento do polvo permanece inteiramente desconhecida.» 

Herberto Hélder, Retrato em Movimento, Ulisseia, 1967, p.28.
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Se a Merkel vê o que fazem aos «seus» trocos!...

Perde o país. Perdemos todos nós



A 7 de Março de 1957 a minha mãe, Maria Helena Varela Santos, abria a primeira emissão regular da RTP, a partir dos estúdios do Lumiar; no dia 25 de Abril de 1974, o meu pai, José Fialho Gouveia, lia o comunicado das MFA, a partir dos mesmos estúdios. Se eu tivesse vindo com um carimbo a diz "Made in RTP" não podia estar mais certo! Foi neste canal de serviço público que passaram os melhores e mais significativos programas da televisão portuguesa, enquanto as audiências não se sobrepuseram à qualidade. Não há Big Brother que ultrapasse um Zip-Zip, não há telenovela que bata "As Árvores Morrem de Pé". Tem vindo a perder qualidade, é um facto. Mas com a dissolução do canal público anuncia-se o adeus definitivo ao papel social a que esta sempre se devia ter mantido fiel e que já recomeçara timidamente a recuperar. De ora em diante a televisão em Portugal viverá somente para o lucro, seguindo uma espécie de doutrina do neoliberalismo mediático, reflectindo a ideologia política que hoje rege os nossos destinos. Vence o capital; perde qualidade; perde o país. 

Maria João Fialho Gouveia no Facebook
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«Chegou a hora de dizer não aos grandes bancos alemães que mandam na Europa»



Sánchez Gordillo, hoje no ionline, em entrevista concedida a Nuno Ramos de Almeida (na continuação da reportagem feita em Marinalesa, já aqui referida). 
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A RTP «segura»



Se este governo concretizar o projecto pré-anunciado para a RTP ─ fechar a 2 e concessionar a 1 por 15 ou 20 anos ─ e se, entretanto, o PS ganhar as eleições, António José Seguro rasgará violentamente todos os contratos assinados?  


Facílimo! Esperemos sentados...
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26.8.12

Se houver por aí voluntárias...



Duas das cinco activistas da banda Pussy Riot, que actuaram na catedral de moscovo e que a polícia não tinha conseguido prender, fugiram da Rússia e procuram feministas estrangeiras que queiram participar em acções futuras

Não resta pedra sobre pedra: já nem a polícia russa é o que era!... 
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Há 10 anos ou pouco mais



A «Revista» do Expresso, ontem divulgada, foi a terceira de quatro edições especiais destinadas a comemorar os 40 anos de existência do jornal, que se completam no próximo dia 1 de Janeiro. Este número abrange o período 1993-2002. 

Ainda não cheguei ao fim da leitura, mas o que vi dá matéria de reflexão mais do que suficiente: como foi possível chegarmos ao ponto em que estamos, a partir de onde nos encontrávamos há 20 ou mesmo há dez anos?!

O texto de Clara Ferreira Alves «Parecia o fim da História» espelha bem, a meu ver,  uma parte da «história»:

«Vivíamos numa campanha alegre. Tudo se vendia e tudo se comprava. Todo o país era um "projecto". Quem olhasse um pouco para o que se passava lá fora estaria atento aos sinais, mas em Portugal, o oásis, ninguém queria saber dos sinais. O Muro tinha ruído, a União Soviética tinha implodido, o mundo banhava-se na luz astral do capitalismo como sistema perfeito.»

Texto, na íntegra, AQUI
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O sucesso

Crise e regresso da política




Via ATTAC Mallorca, cheguei a este texto de Carlos Martínez: Ante la ausencia de POLÍTICA surgen las aventuras políticas Leitura na íntegra recomendada, nesta amena manhã do último Domingo de Agosto. Alguns excertos: 

«En la anterior crisis capitalista, la de 1929, ante el derrumbe de un sistema y la falta de expectativas sociales, también la política - comúnmente entendida - sufrió un gran desgaste. Pero el sistema fue capaz de rehacerse tras experimentar diversas formulas de superación de la gran recesión. Su apuesta final y solución, es conocida, la guerra. En concreto la II Guerra Mundial. Pero antes se probaron diversas soluciones, sobre todo en Europa.

El auge del Fascismo, el Nazismo y el Falangismo, se deben a respuestas nacionales de clases medias asustadas ante su empobrecimiento y el peligro – para ellos y sus ideas conservadoras - del Socialismo y el Movimiento Obrero. Con el apoyo de la gran burguesía y las grandes fortunas europeas, surgieron movimientos de señoritos de las clases medias y medias bajas, violentos y anti-políticos, es decir anti-democráticos pero también, anti-comunistas y anti-sindicalistas. (...)

El pacto por el estado del bienestar, tregua imprescindible para las burguesías europeas principalmente, pero de Occidente en general, también fue roto por la revolución conservadora de finales de los ochenta del siglo pasado y en esas seguimos. En realidad, cuando hay personas incluso desde posiciones de izquierdas que se preguntan “ ¿Cuándo acabará la crisis?“, mi respuesta es: cuando hayan logrado sus objetivos políticos de dominio y control sobre las clases populares y trabajadoras, despojándolas de sus derechos y conquistas sociales y democráticas, en pos de lograr su competitividad en el mundo, es decir competir ante la nueva organización económica mundial, libremente y con pueblos sin derechos en su retaguardia, que les permitan a ellos seguir ganando y acumulando capital. Pero también con pueblos dóciles y asustados que les posibiliten su intento de volver al dominio mundial. (...)

Por eso en estos momentos, ni hay tercera vía posible, ni volveremos al pacto social, no están en ello. Por eso o estamos con las víctimas de la crisis y los pueblos o estamos con los poderosos y las grandes fortunas y bancos. No hay intermediación posible. (...) Por eso la denuncia de las políticas neoliberales y las ideologías conservadoras debe ser clara. Pero cuidado, para el empoderamiento político de ciudadanas y ciudadanos, es imprescindible la acción política estructuradora de un frente del pueblo antineoliberal. Un frente amplio. Ante esto, pienso que los ataques indiscriminados a la política favorecen a los poderes. Pero las provocaciones o acciones elitistas y grupales propuestas por iniciados y poseedores del fuego de la movilización también. No son actos al margen de las clases populares y de sus organizaciones, movimientos y asambleas o grupos sociales amplios auto-organizados, los que nos conducirán a ningún lugar que no sea favorecer intereses de los de arriba, por muy buena voluntad que nos asista. (...)

Esta situación que vivimos estos días, en el Reino de España, da lugar a aventureros y aventuras. A tentaciones de sustituir la acción de las personas solidarias y activas o simplemente sufrientes de la injusticia, por acciones a su margen. Lo más peligroso es que da lugar a aventureros de derechas y ultraconservadores, disfrazados de eficacia y capacidad y novedad, a pesar de ser viejos delincuentes convictos por fraude bancario. La solución no es un ex banquero, ellos han creado la crisis. La solución no es la algarada auto justificativa. La solución es la amplia convergencia socio-política antineoliberal.» 
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