17.10.15

Montevideu, a cidade que nasceu para resistir aos portugueses



O Uruguai é um país simpático, muito pouco povoado (3 milhões e 400 mil habitantes, dos quais 1 milhão e 800 mil na capital e arredores), sem herdeiros dos índios porque foram praticamente todos eliminados e apenas com 10% de negros.

Montevideu é também uma cidade agradável, com avenidas largas, parques e jardins, vários grandes mercados com boas zonas de alimentação, mas sem poder competir com outras capitais da América Latina, sobretudo porque alguns (infelizmente muitos…) dos seus belíssimos edifícios estão em tão mau estado de conservação que quase passam despercebidos. Mas as pessoas são extremamente amáveis e esforçam-se – com êxito – por falar «portinhol», tantos são os milhares de brasileiros, imigrantes e turistas, que por aqui andam.

A capital do actual Uruguai foi fundada pelos espanhóis em 1724, com um porto especialmente apetrechado para se defender das investidas dos portugueses que haviam fundado Colónia do Sacramento em 1680. Porto não de mar, mas sim do Rio da Prata, tão largo que nos faz esquecer o seu estatuto…

Como habitualmente, ficam algumas fotos.




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16.10.15

Em terras de Galeano, este já cá canta



Estou em Montevideu, terra de Eduardo Galeano, que a terá definido como «a cidade onde as pessoas se amam sem dizer e se abraçam sem se tocar». Com esta frase bem presente, uma das primeiras coisas que fiz foi precipitar-me para uma livraria e trazer debaixo do braço este magnífico livro, um tesouro há muito desejado.

Sem tempo, hoje, para grandes narrativas, ficam por aqui estas duas páginas.


15.10.15

Mais vida para além do caos que por aí se vive



Quadro de autor desconhecido (hall do hotel onde estou em Punta del Este).
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Casa del Pueblo



Nunca vi nada que se parecesse com Punta del Este: uma cidade fantasmagórica com 20.000 habitantes, que se enche com 500.000 por mês durante o Verão. Como este ainda não chegou, há milhares e milhares de apartamentos e de moradias vazios, totalmente às escuras quando a noite cai, lojas fechadas ou que abrem umas horas por semana, transportes que não funcionam. 

Talvez ainda venha a dizer algo sobre habitações faraónicas por que passei hoje, mas prefiro falar do Museo Taller Casapueblo que funciona num conjunto arquitectónico extraordinário da autoria de Carlos Páez Vilaró, uma das glórias do povo uruguaio. 

CPV nasceu em Montevideu e morreu em 2014, com 90 anos. Viajou pelos quatro cantos do mundo, foi amigo de Picasso, Dali, Calder, Vinícius de Moraes e muitos outros. Homem de sete ofícios, dedicou-se não só à pintura, escultura e cerâmica, mas também ao cinema e à literatura. 

Em 1958, decidiu construir uma casa por cima das falésias de Punta Ballena e levou 40 anos a concretizar o projecto. Por mais que o próprio tenha sempre negado qualquer influência de Gaudi, é neste que se pensa assim que se avista a fachada, as torres, os terraços. Seja como for, nenhum mérito é por isso abalado ao percorrer o conjunto labiríntico de salas, hoje transformado em museu, e ao ver por fora uma parte hoje transformado em hotel e outra que é a casa onde a família continua a viver. 

Ficam algumas fotos que mais não fazem do que sugerir uma pálida imagem da realidade.



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14.10.15

Punta del Este aqui tão longe



Por razões puramente logísticas, iniciei a minha digressão pelo Uruguai por Punta del Este – talvez o menos interessante do que espero ver. Mas ainda assim…

Um dos destinos turísticos mais conhecidos do mundo enche-se de gente rica dos países vizinhos, dos Estados Unidos e não só, marca o limite marítimo entre o Rio da Prata e o Oceano Atlântico e está neste momento praticamente deserto porque a Primavera tarda a chegar e as temperaturas convidam a tudo menos a mergulhar num dos lados da Punta – a Praia Brava com fortes ondas – ou no outro – a pacífica Praia Mansa.

Na cidade, torres e torres de beleza mais do que duvidosa, lojas de luxo e tudo o que é de esperar em sítios como este. Mas verei mais logo realidades diferentes.

Para já, confirmo a extraordinária simpatia dos uruguaios e, sim, já comi chivito.

13.10.15

É só para dizer



... que já estou no Uruguai, mas que recebi isto agora daí e que não quero que vos falte nada.
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12.10.15

Mais uma volta



Daqui a poucas horas parto para um dos locais do mundo em que melhor me sinto – a América Latina. Mais concretamente, passarei uns dias no Uruguai e chegarei a Buenos Aires mesmo no fim da campanha para as eleições presidenciais onde, pelo que me dizem, o ambiente está mais do que tórrido já há algum tempo. Não espero ver Mujica, mas tenho a sensação de que vou esbarrar com Eduardo Galeano ao virar de uma qualquer esquina de Montevideu.

Irei dando algumas notícias e tentarei passar para segundo plano os episódios da telenovela política dos dias que por aqui passam. 
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11.10.15

Hier encore



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Mediania cinzenta e paralítica


Enquanto houver gente que defende estas posições tão «poucochinhas», não sairemos de uma triste mediania, cinzenta e paralítica.

Teresa Sousa, no Público de hoje:

«António Costa foi para a campanha com uma alternativa que coubesse no quadro do euro. Por mais que o acusem de ter-se deixado enredar por ela, guinar à esquerda seria suicídio. A única alternativa, mesmo que extremamente exigente, é manter-se no centro-esquerda (que é o lugar do PS) e resistir aos cantos de sereia do PCP e do Bloco. Terá de deixar passar um governo da coligação e preservar a sua autonomia no Parlamento, substituindo a “guerra” ao governo por uma “guerrilha” (no bom sentido da palavra) em volta de algumas coisas que sejam essenciais. O resto compete à coligação: perceber que perdeu a maioria e agir em conformidade nas negociações parlamentares mais importantes. Isto seria o ideal, preservando aquilo que é comum aos dois maiores partidos: a Europa.»
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Henrique Luaty Beirão

TTIP

No país dos consensos flácidos



«A dívida e o défice empobreceram Portugal. E não apenas economicamente. A mentalidade, a diversidade e a criatividade modelaram-se a estes novos tempos. Estes anos de austeridade abriram uma nova clivagem na sociedade portuguesa, entre quem quer, sendo cada vez mais uma classe média "remediada", alguma segurança enquanto conta os trocos que sobram do brutal aumento de impostos, e uma radicalidade que começa a engordar eleitoralmente, como mostra o poder do BE.

No fundo esta é a receita da Europa, desta União Europeia em que a "democracia" é um disfarce que serve para iludir um sistema cada vez mais centralizado, defensor do individualismo radical e moralmente duvidoso. (...)

Sendo Portugal um país periférico, perfeito para ser um laboratório da nova sociedade que se adivinha, mais pobre e nivelada culturalmente, transformando os cidadãos em consumidores, estes resultados eleitorais demonstram também que se está a atingir o zénite de uma transformação mais profunda. Em que o projecto social-democrata, assente nas pujantes classes médias pós-II Guerra Mundial, está em riscos de falir.

O modelo arquitectado na Inglaterra de Margaret Thatcher venceu: ideologicamente e culturalmente. (...)

Será sempre assim? É duvidoso. Porque em todas as épocas as hegemonias que pareciam eternas acabaram por implodir. Mas, para já, é este clima de "consenso" que prevalece e que motivou cerca de 80% dos portugueses que votaram nos partidos do chamado "arco do poder". Fingindo que a pobreza disfarçada que se tornou o paradigma deste novo Portugal pós-troika não é com eles. Mas, com esta dívida externa, é este jogo de xadrez que todos irão jogar.»

Fernando Sobral