6.1.18

Antes que o dia acabe


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Falam de quê?



… futebol, doenças, gatos?…

(Expresso, 06.01.2018)
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A obsessão pela absolvição histórica




Mamadou Ba, dirigente do SOS racismo, no Expresso de 06.01.2018:

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Rui Rio: «Agarrem-me que eu não quero ser eleito!»



… é o que parece andar por esta cabeça, com afirmações como esta em plena campanha eleitoral.


«Candidato à liderança do PSD lança uma ideia nova: definir um tecto mínimo para as pensões, mas com componente variável associada ao PIB e desemprego.»
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O Pedrógão social



«Entrando no terceiro ano do seu Governo, António Costa garantiu este Natal que “o emprego está no centro da nossa capacidade de conquistar o futuro. Não apenas mais, mas melhor emprego. Essa é a prioridade que definimos para o ano de 2018”. Ele sabe que, no país mais desigual da UE, tem pendente um Pedrógão social que nos incendiou as vidas desde, pelo menos, 2010. É numa paisagem de devastação social quotidiana que continuam a viver milhões de portugueses. As muitas expectativas que esta experiência política trouxe (o primeiro Governo desde 1976 que se compromete a reverter uma tendência permanente de 40 anos de precarização do trabalho) têm produzido mais uma sensação de alívio que uma mudança efetiva. Os escombros continuam à mostra. Na sua mensagem de Natal de há dois anos, Costa reconhecia já que "Portugal apenas poderá preparar-se e vencer os desafios do século XXI com mais crescimento, melhor emprego e maior igualdade." O problema é que continuamos a ficar pelo crescimento de que qualquer liberal falaria, e à espera ficamos de "melhor emprego e maior igualdade".

É o que abundantemente mostra o Observatório das Crises e Alternativas do Centro de Estudos Sociais: "a consolidação da recuperação económica" tem revertido a precarização do trabalho. "O peso dos contratos permanentes nos contratos assinados desde 2013 continua a ser diminuto (cerca de 34% dos novos contratos vigentes em outubro de 2017)", e isto depois de, só nos dois últimos anos do governo Passos (2013-15), terem passado de 71,8% para 68% no setor privado. A crise não destruiu apenas contratos precários; com ela se aproveitou para destruir muito emprego que era estável. Além disso, não só a precariedade não recuou, mas ela "é acompanhada por uma degradação da remuneração média dos novos contratos permanentes (837 euros mensais brutos no final do primeiro semestre de 2017)". Nos contratos não permanentes, "o Salário Mínimo Nacional [apresenta-se] crescentemente como a remuneração de referência" (Retoma económica: o lastro chamado precariedade, Barómetro das Crises, n.º 18, 05.01.2018).

Não é assim que se demonstra da capacidade alguma de "conquistar o futuro" de que fala Costa. E o Governo sabe disto: há meses, Vieira da Silva, que insiste em "não demonizar os contratos de curta duração [de três-seis meses] que, por vezes, são necessários, principalmente numa economia com mais fatores de sazonalidade", reconhecia que "a dimensão em que eles existem em Portugal é claramente excessiva. [Somos] o segundo ou terceiro país da Europa que tem mais contratos deste tipo”. O ministro "não [se esquecia] que ainda estamos longe do emprego que existia antes da sequência de crises que Portugal viveu" (entrevista DN/TSF, 06.08.2017), e é mesmo importante que não o esqueça porque ele governa "o país da União Europeia onde a diferença entre o grupo dos 10% com salários mais elevados e o grupo dos 10% com salários mais baixos é maior, sendo os dos 10% mais elevados cerca de cinco vezes superiores (a média na UE é 3,5 vezes). Se a comparação for feita entre o grupo dos 1% com salários mais elevados e o grupo dos 10% com salários mais baixos, a diferença aumenta já para 12 vezes".

Os anos da crise e da troika (2010-15) vieram agravar tudo: segundo dados da OIT, "a parte dos salários e ordenados no PIB diminuiu de 36,8% para 34,1%, enquanto a parte do Excedente Bruto de Exploração, que reverte para os patrões, subiu de 41,3% para 43%". Como sublinha Eugénio Rosa, a "inversão destas tendências" verificada no primeiro ano de Governo Costa (2016) foi "pequeníssima" (0,1%). É a relação direta entre precariedade e desigualdade e pobreza que faz com que ele nos prometa "não apenas mais, mas melhor emprego". Só falta é que não se esquive a fazer o que o PS continua a recusar ao fim de dois anos no Governo: revogar "a caducidade automática dos Contratos Coletivos do Trabalho", usada pelos patrões para precarizar o que não ainda não é precário, e repor "nas leis do trabalho o princípio do tratamento mais favorável que", antes da troika e desde Marcelo Caetano, antes mesmo do 25 de Abril, "proibia, a nível dos contratos individuais de trabalho, que os patrões pudessem impor aos trabalhadores condições piores do que as constantes da lei do trabalho" (Eugénio Rosa, A repartição do rendimento entre o Trabalho e o Capital agravou-se em Portugal durante a crise, 02.04.2017). Se não o fizer, o Pedrógão social continuará aí.»

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5.1.18

CTT: quem fala assim não é gago



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05.01.2011 – O dia em que morreu o meu amigo Malanga



Há sete anos, morreu-me um amigo. Malangatano foi certamente um artista extraordinário, mas é sobretudo alguém que recordo com uma enorme ternura.

Tenho aqui à minha frente, desde há muitos anos, este autoretrato que ele pintou numa folha do Record e me ofereceu – é exemplar único. Data de 1972, ano que passou em grande parte em Lisboa, mais ou menos acampado no atelier de alguém que também já não anda por cá e que de quem fui muito próxima: o arquitecto Manuel Vicente.

Convivemos num vasto grupo de amigos e não resisto a recordar uma pequena história. Talvez ninguém tenha andado aos saltos com Malagantana numa cama elástica e eu andei. Era um daqueles fins-de-semana prolongados, com um feriado que os espanhóis não festejam connosco (5 de Outubro, se não me engano) e foi-se até Madrid. Já não sei bem como nem porquê, um dos serões acabou algures numa espécie de cabaré onde estava em cena um espectáculo mais ou menos ginasticado. A páginas tantas, pediram insistentemente que dois espectadores fossem ao palco e saltassem, alternadamente, em cada uma das pontas de uma cama elástica. O Malanga e eu decidimos entrar na brincadeira e, como ele nunca foi leve e eu ainda não tinha engordado, cada um dos seus impulsos fazia-me subir quase ao tecto, para grande gáudio de toda a assistência – voei, no sentido estrito da palavra, como nunca me aconteceu na vida, nem antes nem depois.

Ao longo dos anos, sempre que nos reencontrávamos, ele repetia, com aquele sorriso inesquecível e do tamanho do mundo: «Patrícia, temos de voltar a saltar numa cama elástica!». Mas não voltámos. Nem voltaremos. Porque ele já deu o salto definitivo.

Quando morreu, o Manuel Vicente escreveu-me isto no Facebook: «Speechless! Um pouco de nós morre sempre com cada grande amigo. Vê lá se te vais aguentando.» Mas foi ele, Manel, que também não se aguentou.
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Espanha: isto vai acabar mal




Lamento nunca ter sido suficientemente grata aos nossos Quarenta Conjurados de 1640.
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Dia de Reis explicado aos republicanos



«Gostava de começar o ano com um tema leve e fresco e que não ofende ninguém. Vou tentar, prometo.

Amanhã é Dia de Reis e eu tenho uma especial predilecção pelos Reis Magos. À partida identifico-me com gente que chega atrasada. Em relação aos Reis Magos, muita gente ainda se questiona por que raio é que eles traziam aquelas prendas parvas: ouro, incenso, e mirra. E a mirra, ainda por cima, nem sequer era da Chico.

Como é óbvio, as ofertas não era apenas estas, havia muito mais prendas. Ninguém faz milhares de quilómetros de camelo, a olhar para uma estrela, para levar incenso a um recém-nascido.

Além das prendas que eles entregaram, na lista de ofertas, havia ainda: trinta faisões estufados, seis lampreias de ovos, uma dúzia de sapateiras, etc. Tudo coisas que se estragavam, e como eles se atrasaram, acabaram eles por comer tudo, em vez de se estragar.

Supostamente, os nomes das criaturas eram: Gaspar, Baltazar e Melchior. E nesta altura surge sempre a dúvida, qual deles é o negro? É o Baltazar. Eu arranjei uma maneira fácil de decorar: O negro é o que acaba em -azar.

O Dia de Reis é muito importante para os espanhóis. Em Espanha, os miúdos só amanhã é que recebem os presentes. Já os nossos destruíram os deles, ainda os outros não receberam. O mundo é injusto.

Voltando aos Reis Magos, dizem os estudiosos de pessoas que oferecem mirra a crianças que as relíquias dos Magos foram transportadas para Constantinopla, e de lá passaram para Milão, de onde, depois foram transladados para Colónia, em cuja catedral são até hoje veneradas. Agora que já sabem onde estão os restos dos Reis Magos, não há desculpa para não darem um salto a Colónia nem que seja para depositar uma coroa de flores e um cheque incenso/mirra no túmulo onde estão partes do que outrora foram os bonitos Reis Magos dos vossos presépios.

Os camelos também lá estão, porque os Reis perderam-se no caminho para casa, e ficaram sem nada e tiveram de comer os camelos. Por azar, aquilo até nem eram camelos. Eram dromedários. Camelos árabes. Que, infelizmente, têm só uma bossa o que dá logo para menos picanha. Mas da cauda faz-se uma sopa de rabo de camelo que vai muito bem com areia.

Adeus e cuidado porque andam por aí pessoas que se escondem dentro do bolo-rei, no lugar da fava, e que, durante a noite, quando estamos a dormir, assaltam as casas. Pelo sim pelo não, é melhor não comprar bolo-rei em sítios esquisitos. Fiquem-se pelo bolo-rei tradicional das bombas de gasolina.

Até para a semana, e deixo aqui um aviso importante de fim de festas: não abandonem as vossas árvores de Natal perto de casa, levem-nas para longe, senão, depois, vão dar com elas a arranharem a porta de casa a quererem voltar. Está bem?

Bom ano.»

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4.1.18

E a Catalunha não está parada



«Una delegación de la CUP mantuvo ayer en Bruselas una reunión con el candidato de JxCat, Carles Puigdemont, para explorar posible acuerdos de legislatura que garanticen la mayoría absoluta independentista en escaños conseguida en las elecciones del 21D.»
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Eterno retorno


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Narcos 2018



Ricardo Araújo Pereira na Visão de hoje:


Na íntegra AQUI.
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As mudanças climáticas como sintoma: «ressignificar» o progresso



«Cambio climático y progreso son dos expresiones que están a la orden del día, y con frecuencia no se conjugan bien. Cada vez son menos quienes niegan el cambio climático, aunque algunos de ellos tienen mucho poder. Las consecuencias de su presencia y las amenazas que nos plantea cada vez son más evidentes. En cambio, el concepto de progreso, tal como lo define la ideología dominante, es menos discutido e incluso ampliamente deseado. Sin embargo, también comienza a problematizarse debido a las consecuencias que entraña para la sostenibilidad.

Aunque la definición de “progreso” es “avance, adelanto, perfeccionamiento”, desde hace mucho tiempo, el progreso ha quedado circunscrito al plano económico. Se ha asimilado al crecimiento económico, innovaciones técnicas incluidas. Se supone que, si hay crecimiento económico, se producirá progreso social. Pero la realidad de las últimas décadas nos ha demostrado que puede haber crecimiento económico e innovaciones sin que ello suponga mejorar las condiciones de vida de amplios sectores sociales y, mucho menos aún, la sostenibilidad del planeta. De ahí que hace ya tiempo que se ha empezado a medir el bienestar de la sociedad observando los resultados sociales y medioambientales directamente, de forma separada de los factores económicos. El Índice de Progreso Social es uno de los ejemplos.

Nos encontramos en plena globalización neoliberal. Las grandes corporaciones están imponiendo la financiarización de la economía, desregulaciones de todo tipo, la reducción del gasto social, privatizaciones, deslocalización de empresas y normativas laborales que favorecen sus intereses, unos tratados comerciales totalmente a su medida, una competencia a la baja en todo tipo de ámbitos: fiscal, laboral, social, ambiental…, una desigualdad realmente obscena,etcétera. Pero, a la vez, están llevando al planeta, con su irracional sistema de producción-distribución-consumo, a una situación límite que hace temer la transgresión de umbrales de no retorno. El cambio climático es uno de los graves síntomas que tenemos-hay muchos más-, pero para solucionarlo deberemos abordar sus causas.

Sin embargo, sería un grave error considerar que todos estos problemas se han generado sólo en las últimas décadas y que deberíamos volver a épocas pasadas. La situación y la dinámica que vivimos forman parte de un sistema socio-económico que, sobre la base de la propiedad privada, persigue un crecimiento exponencialy, por medio de la explotación de las personas y de todo tipo de recursos naturales, obtener el máximo beneficio en el menor tiempoposible. Un sistema que plantea una contradicción irresoluble: conseguir objetivos infinitos (crecimiento,consumo, acumulación…) sobre la base de la explotación de unos recursos finitos.



3.1.18

Dica (690)



Making China Great Again (Evan Osnos) 

«As Donald Trump surrenders America’s global commitments, Xi Jinping is learning to pick up the pieces.»
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Assim vamos em termos de Saúde


Carta aberta ao senhor Ministro da Saúde:
Exmo Senhor Ministro da Saúde Dr. Adalberto Campos Fernandes,

1. Na quarta-feira dia 27.12.17 dirigi-me às urgências do Hospital de Santa Maria com uma dor precordial muito forte. Uma vez que tenho pericardite recidiva ( duas em 2016 e um episódio em 2017) devidamente diagnosticada e que me mantiveram internada quer em Portugal, quer na Alemanha, conheço bem os sintomas.

Chegada à urgência não havia nem maca, nem uma cadeira de rodas para me sentar. Valeu-me o voluntarismo de um agente da PSP, que conhecendo o Hospital, me conseguiu desencantar uma cadeira.

A fila para a inscrição na urgência era extensa e nenhuma observação, monitorização ou canalização de veia foi feita porque faltava o "acto administrativo".
Não sendo eu profissional de saúde acredito que um "acto administrativo" (ou a falta do mesmo) não seja impeditivo de prática clínica. Ou vivemos numa república kafkiana?

Acrescento que uma dor precordial é sempre prioritária (como um AVC) haja ou não fila.

Foi-me atribuída uma pulseira amarela na triagem e fiquei na sala de espera, sem que nenhum tipo de medicação para a dor me fosse administrado.

Fui observada por uma médica de medicina interna que prescreveu análises sanguíneas, um ECG e um raio x ao coração. Entre a minha entrada em Santa Maria e a realização de todos os exames (entrada antes das 21 horas) passaram-se mais de cinco horas.

2. A médica, apesar de eu ter contado todo o meu historial e ter explicado que passo boa parte do ano em países em desenvolvimento e junto das populações e os mais carentes dos carentes como os refugiados, desvalorizou esse factor, e não prescreveu uma ecografia cardíaca que usualmente permite fazer o diagnóstico da pericardite quando os outros meios complementares de diagnóstico não a detectam.

Aproveito aqui para questionar porque razão os hospitais portugueses não estão ligados em rede permitindo ao clínico saber a que procedimentos o paciente já foi submetido e a sua história clínica? Em vez de eu contar, não teria sido mais fácil ver todos os exames e o meu processo no Hospital Central de Vila Real onde estive internada em Novembro de 2016?

Em resumo: com uma queixa cardíaca, não fui vista por um clínico da especialidade e fui enviada para casa com Aspergic e um "se se sentir mal volte amanhã".

3. No dia 28.12.17 como a dor não havia passado dirigi-me às urgências do Hospital da Luz onde após uma bateria de exames - que paguei à cabeça - foi-me iagnosticada pericardite e ordenado internamento.

A pergunta que coloco neste ponto é: se o paciente não tiver capacidade económica para pagar exames complementares de diagnóstico sujeita-se à sorte ou ao azar? Isto é responsável (já nem falo em ético)?

4. A minha epopeia hospitalar não acaba aqui. O Hospital da Luz não tinha vagas para internamento. Pediram-me que pagasse os exames e a urgência e que procurasse pelo meu pé um quarto de hospital. Nem um contacto telefónico foi feito.

A pergunta neste ponto, para o senhor ministro e os administradores do privado é: o doente é um cliente, que paga salários e sustenta todo o sistema, ou é um mero factor de lucro ou prejuízo? Onde andam as boas práticas ou mesmo a decência?

5. Continuando, com o meu carro privado, dirigi-me a CUF Descobertas. Lá quando me apresentei na recepção mostrando todos os exames feitos no Hospital da Luz, respondem-me "tem que passar pela triagem" , mas não respondem à pergunta "tem vaga para internamento". Ou seja estavam dispostos a cobrar a taxa de urgência a uma doente com o diagnóstico feito.

Percebendo que eu já não estava para brincadeiras o enfermeiro que me atendeu e que foi sincero: "não temos quartos" e "não vou iniciar o processo". Cancelou a urgência e não me foi debitado a taxa. Telefonar para outro Hospital? Falso alarme.

6. Da CUF Descobertas dirigi-me para o Hospital dos Lusíadas, não sem antes ter telefonado e perguntado se havia vagas, "não lhe podemos dar essa informação pelo telefone". Neste hospital fiquei internada de 28.12.17 a 1.01.18 devido à pericardite.

A minha pergunta é: se não tivesse 550 euros para pagar à cabeça como caução pelo internamento - entre exames e outras despesas foram cerca de mil euros em 24 horas - onde ficaria? O que me aconteceria? Se nas deslocações entre hospitais me acontecesse algo quem se responsabilizaria?

7. Durante o tempo que esteve nos Lusíadas - onde a enfermagem, médicos de medicina interna e demais pessoal, foram de uma extrema simpatia e dedicação - não fui vista por um cardiologista, mas a "concertação" foi feita entre os médicos de medicina interna e alguém da cardiologia que eu nunca vi. Só ontem, em consulta nos Lusíadas, já depois de ter alta, fui vista por uma referência da cardiologia nacional.

As perguntas neste ponto são: não há médicos especialistas nos hospitais privados em época festiva? O que explica que uma doente cardíaca tenha de se deslocar da sua cama, em cadeira de rodas, até um consultório para que lhe sejam observados os ouvidos com um otoscópio preso à parede, porque os demais instrumentos ficam fechados aos fins de semana e feriados?

Esta exposição segue via postal acompanhada de todos os exames e demais documentação.

Mais do que uma resposta do senhor ministro, agradeceria que houvesse uma reflexão séria sobre os problemas graves que enfermam o sistema de saúde.

Com os melhores cumprimentos e votos de um Saudável 2018.
Helena Ferro de Gouveia
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Salvar o SNS




«António Arnaut e João Semedo uniram-se para apresentar uma nova proposta de Lei de Bases da Saúde, debate que deverá ganhar forma nos próximos meses. Acreditam que ainda é possível salvar o SNS.»

Uma entrevista a ambos, a ler com atenção. O que está em jogo é mais do que fundamental.
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Pois reinventemos



«Seis vezes o Presidente invocou a palavra “reinvenção”: é preciso “reinventarmos o futuro” sabendo o que foi 2017; o ano que entra deve ser o dessa “reinvenção”; a reinvenção “é mais do que mera reconstrução material e espiritual” depois das tragédias; apelou por isso à “reinvenção da confiança dos portugueses na sua segurança” e à “reinvenção pela redescoberta desse, ou talvez mesmo desses vários Portugais esquecidos”; e concluiu que é preciso uma “reinvenção com verdade, humildade, imaginação e consistência”.

PUB Reinventemos, então. Mas reinventemos exactamente o quê, ou, o que é mais difícil, reinventemos como? Se a tentação da beleza da forma não nos asfixiar, importa notar que o uso deste tipo de expressões deve ser cauteloso, raro e reservado para projectos verificáveis. Suponho que os leitores e leitoras têm a mesma sensação que eu quando passava por um cartaz eleitoral que, em letras garrafais, nos anunciava que o partido tal é “mudança”. Ou que se lembram que o anterior primeiro-ministro, da feliz coligação PSD-CDS, anunciou que cada um dos seus orçamentos — logo chumbados pelo Tribunal Constitucional — inaugurava o tempo de “viragem”. De todos estes eflúvios, sobrou pouca “mudança” e nenhuma “viragem”. As palavras esgotaram-se porque não eram nada.

Como fica então a “reinvenção”? Pois vejamos. Será Europa? Costuma ser, nada se faz em Portugal sem a referência espiritual a essa Europa mítica, mas de mão pesada. E na Europa não se fala de outra coisa, à boleia de Macron, mas também à boca pequena se anuncia tormenta: nem ministro das Finanças europeu, e lá saía Centeno da presidência do Eurogrupo, nem orçamento reforçado, antes empobrecido, nem líderes prometedores, é a vez de um banqueiro alemão para acabar com as frescuras do BCE. E depois há a Polónia e a Hungria e a República Checa nas mãos da direita facínora, e as eleições italianas disputadas entre Grillo e Berlusconi, e a crise catalã nas mãos de Rajoy. Reinvenção, nada, só desespero, com os eurocratas a convocarem tragédias, se em poucos meses não se fizer nem eles sabem o quê. Não, reinvenção não é Europa.

A bem dizer, nem é isso que o Presidente sugere. A leitura possível da sua “reinvenção da confiança” na segurança remete para a protecção das populações do interior e para a reforma da floresta, que tropegamente vai começando, e, porventura, para o funcionamento do Estado nas suas funções essenciais. Só que reinventar os serviços públicos e proteger os bens comuns exige, agora sim, uma dedicação estratégica que parece faltar na política portuguesa e que leva a que as tragédias sejam tratadas como sustos. Queremos um Serviço Nacional de Saúde com capacidade? Pois é preciso que haja compromisso de carreiras exclusivas, bem pagas, em medicina, enfermagem e cuidados especializados, e investimento técnico substancial. Queremos uma Justiça que não seja anedota na imprensa amarela? Pois é preciso magistrados e outros agentes que imponham respeito, que não torçam as regras, que investiguem antes de prender, que só usem a força do Estado quando for imperioso, que tenham tempo para decidir em cada caso para uma Justiça que cumpre prazos. Tudo isso custa dinheiro, custa competências e precisa de pessoas. Queremos uma Segurança Social que respeite os idosos? Custa pensões melhores e sobretudo apoios sociais dirigidos a quem precisa.

Aí, com franqueza, não é preciso reinventar, porque já sabemos o que nos espera. Bastou um imposto marginal sobre casas de valor efectivamente superior a dois milhões para se anunciaram manifestações dos indignados dos palacetes. Bastou uma taxa de solidariedade a pagar pelas empresas energéticas que vivem da renda garantida pelo Estado para o Governo ceder à chantagem da China. Ficamos mesmo com o problema da reinvenção: exige querer.»

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2.1.18

Assim vamos em termos de comunicação social



... de pior a ainda pior.
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Dica (689)



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«Dado o caráter plebiscitário que o ato eleitoral assumiu, podemos afirmar que os seus resultados são a confirmação de que, se o sentimento independentista não é maioritário, está profundamente implantado, tendo o apoio de quase metade da população do território.
E, ainda, que a maioria do eleitorado catalão defende, no mínimo, a autodeterminação, traduzida na realização de um referendo sobre a independência.»

Há dois anos, festejou-se assim


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Refugiados: a 21ª nação do mundo




«More than 65 million people are currently displaced from their homes – almost one in every 100 human beings. If refugees and internally displaced people (IDPs) were a nation they would be the 21st biggest on earth. »
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Varoufakis: «Não se enganem, a crise continua: o euro corre perigo»



Excertos de um texto publicado em El País de hoje, a propósito de um livro de Varoufakis (Adults in the room, Comportarse como adultos em castelhano). A ler aqui na íntegra.

«Europa crece a un ritmo superior al 2%. El paro ha bajado de la cota del 9%. Los déficits mejoran. Los populismos acechan, pero de momento siguen quedándose a las puertas de llegar al Gobierno en los grandes países. Las instituciones europeas presumen, en fin, de recuperación. Sin embargo, Varoufakis desdeña todo eso – “Una reactivación cíclica”, lo llama – y brinda un mal dato por cada dato bueno. Y, sobre todo, esboza un relato mucho menos complaciente que el de las élites de la UE.

“En la fase más aguda de la crisis del euro, hubo serios riesgos de fragmentación. El BCE supo contenerlos, pero las amenazas aún existen, aunque adopten otras formas: el Brexit, una Alemania que no logra formar Gobierno, la extrema derecha en Austria, Cataluña, el hundimiento del bipartidismo en Francia y los reflejos autoritarios en Europa del Este son claros síntomas de un malestar profundo. Las grandes crisis son momentos de revelación de las fallas del sistema: en Europa le hemos visto las costuras al euro y si nada cambia la amenaza es el hundimiento gradual de lo que solíamos llamar democracia liberal”.

¿Lo peor ha pasado? No. Varoufakis, que ha fundado un nuevo partido (DiEM 25) para luchar contra ese malestar, se ríe cuando se le recuerda que el apocalipsis casi siempre defrauda a sus profetas: “Los análisis más pesimistas, entre ellos los míos, no han fallado en los últimos años; lo siento, pero es así”. ¿Lo peor ha pasado, al menos? “La situación actual me recuerda a la de 2001: veníamos de veinte años de encadenar burbujas, estalló la de las puntocom, y aun así nos las arreglamos para seguir igual y provocamos una crisis aún más grave con una burbuja aún mayor que estalló en 2008. Corremos el riesgo de volver a las andadas. En España, la deuda total va al alza. En Italia hay fuga de capitales, una crisis bancaria en ciernes, una situación política explosiva. Lo que tenemos en Grecia no puede llamarse recuperación, y la deuda es impagable. Los ejemplos son inagotables. En toda la periferia hemos cambiado empleos a tiempo completo por trabajos precarios, y con ello se ponen en peligro las pensiones futuras y las bases de la economía europea. Los desequilibrios financieros y macroeconómicos no solo no se han reducido, sino que son incluso mayores: me temo que no estamos para celebraciones. El euro, tal como está hoy, es insostenible”. (…) Varoufakis se retrata a sí mismo como una suerte de héroe trágico en su libro. Alude a algunos de los errores que cometió como miembro del Gobierno de Alexis Tsipras, aunque su capacidad de autocrítica no está a la altura de su talento literario. Y aun así merece la pena prestar atención a su análisis. “Grecia no podía aceptar ningún acuerdo sin reestructurar su deuda, que era y es insostenible. Pero a los acreedores no les interesaba que pagáramos: simplemente querían dar una lección a Grecia como aviso a otros países. Al final, desgraciadamente, Tsipras capituló. En el póquer, si tienes malas cartas, solo tienes una posibilidad de ganar si tu farol es creíble y lo mantienes hasta el final, pero si crees que el oponente no va a retirarse no deberías jugar. Estoy orgulloso del auténtico susto, aunque breve, que se llevó la troika. Pero no supimos resistir”. “Nuestra derrota tuvo unos costes enormes”, admite en el libro. “Maldigo a mi Gobierno por no haber resistido”, añade durante la conversación.»
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1.1.18

44 anos sem mensagens de Ano Novo divertidas



Sem afectos nem selfies, mas com umas boas gargalhadas:

«Eis-nos chegados ao primeiro dia da oitava década do século XX, pelo que precisamente de hoje a trinta anos surgirá, para os que então viverem, o primeiro dia do século XXI.» (1 de Janeiro de 1971)
«À medida que a população aumenta, vai aumentando, também, a maldade; e tudo seria diferente se, em vez de aumentar a maldade, aumentasse a bondade.» (1 de Janeiro de 1969)

Mas as melhores pérolas nem eram as dos discursos escritos de 1 de Janeiro. Como estas:
«É a primeira vez que estou cá, desde a última vez que cá estive.»
«Hoje visitei todos os pavilhões, se não contar com os que não visitei.»
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Ser CR7 a quanto obrigas...



Casino de Lisboa, ontem.
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01.01.1962 - A revolta de Beja recordada por quem nela participou



Há seis anos, por ocasião do 50º aniversário do Golpe de Beja, vinte e três dos participantes elaboraram um texto, pouco conhecido, e que divulgo de novo. Como afirmam, o objectivo foi «contribuir para resgatar a “memória apagada” dessa efeméride, remetida como está para o limbo dos acontecimentos avulsos, insignificativos; situação, aliás, em consonância com muitas outras relativas à memória da resistência antifascista».

«Os subscritores, participantes sobrevivos da Revolta Armada de Beja – cujo quinquagésimo aniversário ocorre no próximo 1º Janeiro – pretendem, através da divulgação pública desta evocação, contribuir para resgatar a “memória apagada” dessa efeméride, remetida como está para o limbo dos acontecimentos avulsos, insignificativos; situação, aliás, em consonância com muitas outras relativas à memória da resistência antifascista; e em contraste flagrante com o desvelo comemorativo dedicado ao chamado Estado Novo, seus personagens e afins.

Na realidade, o combate e a resistência contra a ditadura e o fascismo em Portugal, constituíram um processo histórico contínuo ao longo de metade do séc. XX. Nesse processo insere-se a Revolta de Beja...porque aconteceu e ficou selada em sangue e morte. A sua importância e significado são-lhe conferidos pelo fluxo histórico no seu todo. Não foi um episódio isolado, fora do contexto da luta comum do povo português pela libertação de um regime ditatorial.

Com efeito, no caso da Revolta de Beja, é fácil estabelecer a sua ligação orgânica com o grandioso movimento de massas/levantamento popular provocado pelas eleições presidenciais em 1958; vindo a ser, exactamente, o general Humberto Delgado o impulsionador da Revolta de Beja e, como tal, figurando em 1º lugar na lista dos 87 incriminados pronunciados para julgamento no Tribunal Plenário Fascista.

Na sequência imediata da Revolta de Beja, eclodiu em Março desse mesmo ano de 1962, a revolta estudantil de maiores proporções contra o regime; o 1ºde Maio desse ano foi assinalado pelos trabalhadores e outros sectores da população com a maior força e amplitude de sempre. E o processo histórico continuou, já com a guerra colonial, por mais 12 anos, até 1974.

Tem sido prática corrente, após o derrubamento do fascismo até aos dias de hoje, minimizar a importância e o significado da Revolta de Beja. Obras antigas e recentes, de pretensa intenção histórico/cronológica, nem sequer anotam o acontecido. Mas bastaria ter consultado a imprensa da época para ver em grandes parangonas a dimensão do impacto e do sobressalto que provocou no País e além-fronteiras. O ditador tão emocionado ficou (citando) “com os acontecimentos das últimas semanas” que perdeu a voz e alguém teve de ler-lhe o discurso na sessão da Assembleia Nacional de 3 Janeiro; e cancelada teve de ser a costumada manifestação de desagravo.

Mas não serão certamente a contrafacção histórica ou a posição negacionista, até hoje dominante, que conseguirá alterar o significado patriótico/cívico/ético da Acção Revolucionária de Beja; que conseguirão apagar no registo da história o facto de “ter acontecido”; que abalarão as convicções e o orgulho, mantido sempre enquanto houve/houver alento pelos revoltosos de Beja, por terem dado corpo e presença e não terem recuado na hora de confirmação.

A 50 anos de distância temporal, neste ensejo evocativo os abaixo-assinados sentem-se felizes por poderem afirmar que a Revolta Armada de Beja insere-se, com honra, no processo histórico de luta e resistência do Povo Português contra a ditadura e o fascismo.

Simultaneamente, manifestam óbvia solidariedade, respeito e admiração, para com todas as outras “memórias apagadas”, por idênticos e obscuros propósitos de desvalorização do historial da resistência antifascista portuguesa.

Resta portanto, aos resistentes sobreviventes da Revolta de Beja saírem em defesa da causa pela qual empenharam as suas vidas, que continua a ser a Causa da Liberdade pela Justiça Social, a qual, neste século XXI, corresponde a ser a Causa contra o retrocesso civilizacional, contra o neoliberalismo que retira todos os recursos da economia real para entregá-los ao capital financeiro, avassalando o mundo e ameaçando o destino das gerações vindouras. 

Assim foi aqui feito,
Evocando o Cinquentenário da Revolta Armada de Beja.
Em Lisboa, na última semana do ano 2011

Airolde Casal Simões / Alexandre Hipólito dos Santos / Alfredo da Conceição Guaparrão Santos / António da Graça Miranda / António Pombo Miguel / António Ricardo Barbado/ António Vieira Franco/ Artur dos Santos Tavares / Delmar Silva / Edmundo Pedro / Eugénio Filipe de Oliveira / Fernando Rôxo da Gama / Francisco Brissos de Carvalho / Francisco Leonel Rodrigues Francisco Lobo / João Varela Gomes / José Duarte Galo / José Hipólito dos Santos / Manuel da Costa / Manuel Joaquim Peralta Bação / Raul Zagalo / Venceslau Luís Lopes de Almeida / Victor Manuel Quintão Caldeira / Victor Zacarias da Piedade de Sousa 
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Bom dia



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31.12.17

Bom 2018 a quem passar por aqui


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A minha fotografia de 2017



E já é 2018 no Fiorde Milford Sound (Nova Zelândia).
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31.12.1968 – Vemos, ouvimos e lemos



É quase um ritual: em 31 de Dezembro regresso à passagem do ano de 1968 para 1969. Há sempre quem não saiba que a Cantata da Paz, tão divulgada por Francisco Fanhais depois do 25 de Abril, foi por ele «estreada» nessa noite, numa Vigília contra a guerra colonial, com letra propositadamente escrita para o efeito por Sophia de Mello Breyner.



Em 31 de Dezembro de 1968, cerca de cento e cinquenta católicos entraram na igreja de S. Domingos, em Lisboa, e nela permaneceram toda a noite, naquela que terá sido a primeira afirmação colectiva pública de católicos contra a guerra colonial. O papa Paulo VI decretara que o primeiro dia de cada ano civil passasse a ser comemorado pela Igreja como dia mundial pela paz e, alguns dias depois, os bispos portugueses tinham seguido o apelo do papa em nota pastoral colectiva.

Assim sendo, nada melhor do que tirar partido de uma oportunidade única: depois da missa presidida pelo cardeal Cerejeira, quatro delegados do grupo de participantes comunicaram-lhe que ficariam na igreja, explicando-lhe, resumidamente, o que pretendiam com a vigília:

«1º – Tomar consciência de que a comunidade cristã portuguesa não pode celebrar um “dia da paz” desconhecendo, camuflando ou silenciando a guerra em que estamos envolvidos nos territórios de África.

2º – Exprimir a nossa angústia e preocupação de cristãos frente a um tabu que se criou na sociedade portuguesa, que inibe as pessoas de se pronunciarem livremente sobre a guerra nos territórios de África.

3º – Assumir publicamente, como cristãos, um compromisso de procura efectiva da Paz frente à guerra de África.»

Entregaram-lhe também um longo comunicado [que está online] que tinha sido distribuído aos participantes, no qual, entre muitos outros aspectos, era sublinhado o facto de a nota pastoral dos bispos portugueses, acima referida, tomar expressamente partido pelas posições do governo que estavam na origem da própria guerra, ao falar de «povos ultramarinos que integram a Nação Portuguesa».

Apesar de algumas objecções, o cardeal não se opôs a que permanecessem na igreja, ressalvando «a necessidade de uma atitude de aceitação da pluralidade de posições».

Pluralidade não houve nenhuma e, até às 5:30, foram discutidos todos os temas previstos e conhecidos: vários testemunhos, orais ou escritos, sobre situações de guerra na Guiné, Angola e Moçambique.

Hoje, tudo isto parece trivial, mas estava então bem longe de o ser. Aliás, seguiu-se uma guerra de comunicados entre Cerejeira e os participantes na vigília. Com data de 8 de Janeiro, uma nota do Patriarcado denunciou «o carácter tendencioso da reunião», terminando com um parágrafo suficientemente esclarecedor para dispensar comentários: «Manifestações como esta, que acabam por causar grave prejuízo à causa da Igreja e da verdadeira Paz, pelo clima de confusão, indisciplina e revolta que alimentam, são condenáveis; e é de lamentar que apareçam comprometidos com elas alguns membros do clero que, por vocação e missão, deveriam ser não os contestadores da palavra dos seus Bispos, mas os seus leais transmissores».

A PIDE esteve presente (há disso notícia em processo na Torre do Tombo), mas não houve qualquer intervenção policial. Alguns jornais (Capital e Diário Popular) noticiaram o evento, mas sem se referirem ao tema da guerra colonial – terão provavelmente tentado sem que a censura deixasse passar. A imprensa estrangeira, nomeadamente algumas revistas e jornais franceses, deram grande relevo ao acontecimento. E foi forte a repercussão nos meios católicos.

P.S. – Quatro anos mais tarde realizou-se uma outra vigília pela paz, na Capela do Rato, com consequências bem mais gravosas porque envolveu uma greve de fome, prisões e despedimentos da função pública.
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