13.1.18

O menino guerreiro voltou a perder



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Dica (694)




«Automation is dramatically reshaping the workforce, but we’ve barely begun to grapple with how it will reshape society.»
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Partidos conservadores e a cannabis medicinal



«Os partidos mais conservadores exibiram no Parlamento uma indignação incontida: a utilização médica da canábis, para tratamentos prescritos por médicos em casos de cancro ou outras patologias em que a droga alivia o sofrimento, seria um cavalo de Tróia para promover o uso recreativo da substância. Curioso argumento, para os partidos conservadores é aceitável utilizar um opiáceo, como a morfina, mas nunca um derivado da canábis, porque haveria o risco horrível de o doente com dor crónica ou cancro apreciar o medicamento. Acresce que o argumento de que os proponentes defendem também o uso recreativo é bizarro: usar essa razão para recusar o uso medicinal é como recusar uma proposta do PCP sobre o salário mínimo ou do CDS para o fim da taxinha sobre as mais-valias só porque ambos pensam isto ou aquilo sobre o IRC.

PUB O Bloco e o PAN fizeram bem em separar o uso medicinal do uso recreativo, são matérias diferentes. No primeiro caso, Jorge Sampaio, João Goulão ou a Ordem dos Médicos disseram o essencial: só há boas razões clínicas para usar esses medicamentos nos casos necessários. O PS fez bem em apoiar a medida e o PSD em mudar de posição e aceitar a prescrição médica. Portugal dará portanto um pequeno passo na humanização do tratamento de doenças penosas.

Virá depois o tempo de decidir sobre a legalização do consumo de canabinóides. Por várias razões que se vão impondo. A primeira e a mais importante é que a nossa sociedade trata as drogas de três formas distintas: há as legais mas sujeitas a controlo médico (os medicamentos), há as legais de venda livre (só sujeitas a restrições de idade dos consumidores, como o tabaco e o álcool) e há as que ficam nas mãos dos circuitos criminosos. Ora, a legalidade não é decidida em função da gravidade da toxicodependência, pois o álcool é a droga mais perigosa, mais usada e assim a que tem mais riscos sociais (violência contra as mulheres e crianças, acidentes automóveis), mas ninguém pondera a sua proibição, porque aumentaria o malefício. Portanto, a experiência indica que o controlo das drogas é melhor do que a sua clandestinidade.

A segunda razão para mudar a política sobre o uso de drogas é acabar com o favorecimento ao mundo do crime. É certo que esse mundo já foi o das grandes potências imperiais, que impuseram de 1839 a 1842 e de 1856 a 1860 duas guerras contra a China para garantirem o seu direito de venderem ópio, foi assim que Hong Kong passou para o Reino Unido, era o porto de entrada da droga. A Bayer sintetizou a heroína a partir do ópio, vendendo-a a crianças como um medicamento. E, até 1916, como lembrava com graça o Economist, a revista publicava a cotação do ópio, que era legal. Hoje, a ilegalidade criou um mercado mundial multimilionário e, como lembra a ONU, dois terços da produção mundial de ópio são obtidos num país sob ocupação militar norte-americana, o Afeganistão.

Claro que agora sabemos mais sobre os riscos dessas drogas e por isso devemos tomar precauções. Mas só se terminará com estes circuitos do crime se as drogas forem controladas pelas autoridades de saúde, como acontece com o álcool e os medicamentos: umas devem ser de venda condicionada e outras restritas a prescrição médica. Por isso, como lembrava Goulão, que tem reservas sobre o assunto, a experiência norte-americana de legalização da marijuana é reveladora. No Alasca, Califórnia, Colorado, Oregon, Massachusetts, Maine, Nevada e Washington, como no Uruguai e outros Estados, o resultado da legalização da canábis e seus derivados tem sido demonstrativo de como a “guerra às drogas” e o proibicionismo foram sempre um favor a Pablo Escobar e aos seus capangas, como o proibicionismo do álcool foi um favor a Al Capone no século passado.»

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Marcelo, na tarde de hoje?



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Sidónio e batatinha



Daniel Oliveira no Expresso de 13.01.2018:



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12.1.18

Espanha, se as legislativas fossem amanhã

Onze anos depois do referendo sobre a IVG




Quase 11 anos depois do referendo sobre a IVG, isto é triste e grave, muito grave. Sejam quais forem os fundamentos pata o emaranhado de razões e responsabilidades apontadas neste texto, regredimos – sem desculpas aceitáveis.
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Trump: e o mundo assiste a isto, impotente




«"Por que razão queremos pessoas do Haiti e de 'países de merda' em vez de noruegueses?", disse o presidente dos EUA.»
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Votei, mas não inalei



«Ontem debateu-se (escrevo esta crónica na quarta-feira) na Assembleia da República as propostas do BE e do PAN sobre os projectos de lei para legalizar a canábis para fins medicinais. O CDS e o PSD estão contra. É pena. Até porque a primeira autorização para plantação de canábis para fins de medicinais em Portugal, para exportação, foi dada em 2014.

Acho que o PSD e o CDS podiam ter sido convencidos se lhes disséssemos que é tradição fumar charros em Portugal. Nas Festas de Reis, na aldeia de Vale Salgueiro, em Mirandela, as crianças são encorajadas a fumar cigarros, uma tradição que teve direito esta semana a uma reportagem da Associated Press. "Pais encorajam os seus filhos, alguns com menos de cinco anos, a fumar cigarros." A reportagem salienta que a idade legal para adquirir tabaco em Portugal é 18 anos, "mas ninguém proíbe os pais de darem cigarros às crianças e as autoridades não intervêm para parar esta prática". Os entrevistados justificam a mesma com os costumes locais. Que fixe. Se calhar, os miúdos injectam-se no Carnaval e vão às meninas na Páscoa.

Nada como imaginar um roteiro tradicional, como as crianças a arder de Vila Nova de Sardão, o "striptease" forçado de septuagenárias em Poço de Sete Mães ou a largada de cabrestos e grávidas bêbedas de Fonte de Castelo Coiso.

Os deputados do PSD, pelo menos alguns dos que conheço, votam contra a canábis para uso medicinal, mas usam para fins recreativos. O PSD e o CDS são contra a utilização em Portugal de canábis para fins medicinais, mas autorizaram plantações onde produzimos canábis para venda para fins medicinais noutros países. É espectacular, somos grandes exportadores de marijuana para uso farmacêutico, mas segundo o PSD e o CDS aquilo só faz mal. Ainda recentemente, a maior plantação de canábis em Portugal foi anunciada no Web Summit. É proibir essa malta toda de cá entrar e deitar fogo a estes projectos todos. Porque não vamos deixar produzir cá uma coisa que até é proibida para efeitos medicinais.

Recordo que, em 2012, a JSD, na altura liderada por Duarte Marques, apoiou a Marcha Global da Marijuana em Lisboa. Grande maluco. A desculpa do PSD para chumbar a legalização da canábis para uso medicinal é: "Pode causar habituação." Ou seja: "Coitados, é verdade que a canábis ajuda no sofrimento de cancros terminais, mas depois essas pessoas podem ficar agarradas." Provavelmente, vão para o céu fazer filtros.

Resumindo, no país de horas e mais horas de publicidade ao cogumelo do tempo e ao Calcitrin, que é vendido directamente ao público, sem intermediação das farmácias, nem pensar em permitir a canábis para efeitos terapêuticos. Não aguento tanta hipocrisia, preciso de fumar uma.»

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Para acabar o serão



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11.1.18

Dica (693)




«Si c'est surtout son mois de mai qui a marqué l'histoire de France, l'année 68 fut mouvementée sur toute la planète, au Nord comme au Sud. Alors que la «société de consommation» est en plein boom, la génération de l'après-guerre tente de se faire entendre, et les aspirations sociales montent. Premiers signaux des crises économiques, printemps de Prague, guerre du Vietnam… «Libé» remonte au jour le jour les différents fils qui vont se nouer pour faire de 1968 une année charnière.»
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Europa hipócrita



Cada vez suporto menos esta Europa hipócrita, que vê morrer pessoas no Mediterrâneo e que quer agora evitar a dor das lagostas. Em breve virão as pulgas e as carraças.

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Ontem fui sondada


Tocou o telefone fixo e uma menina simpática pediu-me para responder a um conjunto de poucas perguntas «sobre política». Aceitei.

Tudo normal, o que penso de um ou outro aspecto da política nacional, da europeia, se sei quem é fulano ou beltrano. Com uma simples curiosidade, já mesmo a terminar: uma especial atenção e insistência a propósito de Carlos Moedas. Registei.
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Se adjectivar, não beba



Ricardo Araújo Pereira na Visão de hoje:



Na íntegra AQUI.
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Retido para derreter?



«Há quatro “tipos” de impostos: os directos, os indirectos, os disfarçados de taxas e os de “tesouraria”. Estes últimos são os mais subtis e não precisam de aprovação parlamentar. Sempre que há uma mudança de taxas e/ou de escalões no IRS com algum desagravamento, eis que surge a polémica, logo esquecida ao virar da página.

Foi o que aconteceu agora que foram publicadas as taxas de retenção de IRS sobre os salários e pensões a pagar em 2018. O Governo decidiu dividir, por dois anos, a modesta redução. Este ano, fazendo-a reflectir, ainda que parcialmente, nas taxas de retenção. Em 2019 – por acaso, ano de eleições – devolvendo o excesso de imposto retido.

Esta prática, verdade seja dita, não é só de agora. É recorrente, mas tem vindo a agravar-se. Se um contribuinte é devedor paga com língua de pau, ou seja, com juros legais a uma taxa que, em 2017, foi de 4,966%, sem contar com as omnipresentes coimas. Se é credor, recebe tarde e sem qualquer compensação. É este o quarto tipo de impostos: um tributo de empréstimo forçado ao Estado. Uma retroescavadora fiscal. Não que haja retroacção de pagamentos, mas, com o mesmo resultado, há diferimento por não recebimento a horas.

Bom seria que este “quase-imposto” passasse a ser regulado em sede orçamental parlamentar, até para que seja pleno o escrutínio do financiamento do Tesouro feito através de retenção mensal de IRS excessiva em relação à liquidação anual. Tanta tinta que corre à volta das cativações da despesa do Estado e tão pouca à volta destas outras cativações excessivas de receitas. Tanto barulho do BE e do PCP sobre as primeiras e tanto silêncio sobre as segundas!

É evidente que, matematicamente, as tabelas não podem ser completamente neutras. Mas, nos tempos que correm, nem sequer é difícil construir tabelas que repercutam, em termos médios, as deduções à colecta que as famílias fazem. É que estas não são uma excrescência, fazem parte substantiva da economia do imposto.

De acordo com dados oficiais conhecidos, a diferença entre as retenções na fonte e o valor final liquidado de IRS vem aumentando. Em 2014 (relativo ao IRS de 2013) estima-se que foi de 1,4 mil milhões de euros. Nos anos seguintes, o montante atingiu já 2,5 mil milhões de euros, com um reembolso médio por contribuinte de 955 euros! E é provável que o valor a reembolsar após a entrega, em 2019, da declaração de IRS deste ano exceda os valores até agora alcançados.

Este anestesiado “quase-imposto”, bem forçado por sinal, até está bem classificado no “ranking” fiscal: é o 5º, a seguir ao IVA, IRS, IRC e ISP. Está acima de todos os outros impostos indirectos. Em termos financeiros corresponde a 3,2 vezes o ISV (veículos), a 9,1 vezes o IABA (álcool), a 6,1 vezes o IT (tabaco), a 1,7 vezes o IS (selo), a 7 vezes o IUC (circulação).

É claro que os zelotas orçamentais da União Europeia favorecem esta ilusória e manipulável contabilidade. É que uma cobrança excessiva de receita no IRS num determinado ano não é corrigida no ano seguinte com efeitos retroactivos pelo montante do valor devolvido aos contribuintes. Tal significa que o IRS retido a mais em 2018 fica mesmo assim em 2018, ajudando a diminuir (em termos brutos) o défice. Depois, a devolução do que foi retido a mais apenas influencia o exercício de 2019, ano eleitoral…

Última nota: esta imposição repete-se anualmente. Assim, acompanhará o contribuinte com rendimentos de trabalho e pensões até ao fim da vida. É que, de facto, quando o Estado devolve o devido do ano anterior, já o contribuinte está a pagar a mais por via da retenção de rendimentos desse ano. E assim por diante…»

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10.1.18

Moody Blues




Morreu Ray Thomas, fundador e vocalista do grupo. 
As horas e horas que passei a ouvi-los!
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Dica (692)




«Iran's protests, fueled by the rising cost of living and widening economic and social disparities, have quickly morphed into a repudiation of the regime itself. While much of the anger has been directed at the conservative clerical establishment, reformists have as much at stake as their hardline rivals.»
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Dizem que é isto o mundo pós-político…




«O eleitorado americano está galvanizado com uma hipotética candidatura à presidência da famosa apresentadora de televisão. Como pode isto acontecer? A América enterra cada vez mais a política no espectáculo. Ainda na ressaca da vitória de Trump, já quer ver um duelo entre duas grandes celebridades.»
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Júlio Pomar



Faz hoje 92 anos.

E um exemplar deste tenho eu, numa parede aqui à minha frente: «A Refeição do Menino», gravura, litografia, 1951.
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Um partido com medo de existir



«A campanha para as eleições directas no PSD é uma breve notícia de rodapé e a culpa nem é tanto da suposta falta de credibilidade de Santana Lopes nem do putativo provincianismo ou da rigidez mental de Rui Rio. A novela não interessa a ninguém porque os enredos dos candidatos deixam transparecer o complexo de culpa do realizador de curtas-metragens quando olha para o poder do cinema de Hollywood. O PSD está de tal forma deprimido e inseguro sobre o que foi e o que pode ser que desistiu de ousar. É incapaz de produzir líderes para o futuro como tantas vezes fez no passado. Não consegue esboçar nada mais do que meia dúzia de ideias vagas. Não tem nem energia nem determinação para desafiar a liturgia política imposta pelo Governo e avançar com propostas novas, reformistas e desafiadoras, capazes de interpelar um país que, como diz o Presidente-Rei, precisa de se “reinventar”. Talvez nunca como hoje o PSD esteve tão longe da realidade e das expectativas do país como está hoje. A modorra da campanha em curso é a consequência desse fracasso.

PUB O mal não está na indefinição ideológica porque o PSD sempre foi um partido de vela latina, capaz de beneficiar do vento vindo de qualquer direcção. Rui Rio insiste que o partido é “do centro” ou que vai do centro-esquerda ao centro-direita, mas ao pedir “um novo contrato social que se afaste do discurso libertário anti-Estado” empenha-se mais em enterrar a era de Passos Coelho do que a construir uma nova era. E se Santana Lopes afirma que, “de nada interessa face à nossa riqueza e matriz ideológicas, rótulos de centro esquerda ou de centro direita”, não deixa de enfiar o chinelinho que o PS, o Bloco e o PCP usam ao dizer que não quer “um País obcecado com o ‘défice zero’, só pelo lado da despesa”. Rio ainda ousa ensaiar umas ideias sobre a reforma do parlamento, sobre a segurança social ou sobre a relação com o PS no próximo ciclo político. Fica assim muito à frente da tagarelice de Santana Lopes. Mas, na essência, quer um, quer outro, evitam arriscar o que quer que seja capaz de desafiar este aparente consenso sobre o país maravilhoso do post-troika.

Bem podem dizer que a campanha em curso tem como propósito cativar a simpatia dos militantes. Podem insistir que uma moção de candidatura não implica um programa como os que se apresentam quando em causa está a disputa de eleições legislativas. Pouco interessa. O mínimo que se pode dizer é que a desistência de abrir o jogo, de ousar pensar fora da hegemonia das políticas para o Estado ou para a Função Pública é apenas mais uma consequência da renúncia do PSD à sua própria forma de ser. O PS capturou a sua inteligência e desarmou a sua capacidade de ser alternativa. O PSD que outrora sabia desafiar o ar dos tempos para se ajustar aos ciclos de poder ou de oposição através de programas políticos versáteis tornou-se um monólito. A pobreza desta campanha, na forma ou no conteúdo, é apenas a revelação de um partido sem uma réstia de dinamismo e de capacidade para se reinventar.



9.1.18

Entretanto na AR




Não podiam ter sido gastos mais 385 milhões de euros na saúde? Claro que sim, foi uma questão de opções.
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09.01.1941 - Joan Baez



Nasceu em 9 de Janeiro de 1941, anda ainda por aí e lançará um novo álbum em 02.03.2018. Fica aqui uma amostra:




Activista contra a Guerra do Vietname, foi detida mais de uma vez, como, por exemplo, em 1967, em Oakland , numa das dezenas de manifestações que tiveram lugar em cerca de 30 cidades dos Estados Unidos:




Algumas, entre muitas outras, das canções que permanecem:





Inesquecível:



De um cd gravado em 2008:


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Está o destino de muitos milhões de pessoas dependente desta besta!




«Para além de a comunidade de salvadorenhos que vive nos Estados Unidos ao abrigo do TPS ser muito maior do que as outras que viram o seu estatuto cancelado, também é das que está há mais tempo no país, tendo já criado laços mais fortes.
“A decisão sobre El Salvador é particularmente prejudicial”, argumentou Kevin Appleby do Centro de Estudos para as Migrações, com sede em Nova Iorque, citado pelo Washington Post. “Não só vai desenraizar famílias e crianças que vivem aqui há anos, mas também desestabilizará ainda mais um país já violento. É um sinal de vistas curtas e prejudica o interesse que todos temos em ter uma América Central estável [politicamente]”, acrescentou o activista.»
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A lei Frankenstein



«Andy Warhol, que não se contentou com 15 minutos de fama, disse um dia que: "Comprar é muito mais americano do que pensar e eu sou absolutamente americano." Foi talvez com estas palavras em mente que uma série de incógnitos deputados portugueses decidiram, durante um ano, fazer reuniões que não existiam para criar uma lei que desejavam que fosse invisível. Ou seja, em vez de pensarem, decidiram optar pelo lado materialista da função partidária. Ao transformarem o financiamento partidário numa loja de conveniência, os deputados criaram o seu próprio materialismo dialéctico: em vez de serem transparentes com a sociedade, criaram um restaurante Michelin privado. A metodologia secreta foi tanta que ninguém foi responsável pelo nascimento do Frankenstein e, agora, com ele a andar por aí aos tombos, à espera do congresso do PSD, ninguém quer ficar com ele em casa. É assim a política indígena, na sua insignificância face ao que são os desafios que se colocam. Isto porque apesar de a política ser a arte do possível, tudo pode mudar quando alguém interfere a pontapé e se torna a arte do impossível.

Parece que a política portuguesa continua incapaz de, como Alice, ver o outro lado do espelho. Outrora os centros da esperança, os partidos estão bolorentos, ocupados por "boys" ou por grupos de interesses. As suas mensagens unificadoras são agora garrafas com frases perdidas no oceano das redes sociais, em que não há regras, nem pensamento estratégico: só há emoções à flor da pele. Assiste-se à deprimente lavagem de roupa suja e à agenda determinada pelas redes sociais que os partidos seguem como o Glutão que come toda a sujidade. Basta olhar a nulidade do pensamento dos partidos portugueses sobre os temas do futuro: as alterações climáticas (os incêndios não ensinaram nada aos aparelhos partidários), a relação do Estado social com uma economia de plataformas, a inteligência artificial. Que os partidos não se querem reformar mostra-o esta tentativa de lei-fantasma. Mas, se não o fizerem, morrerão.»

Fernando Sobral
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8.1.18

Oh! Mas que grande surpresa!

08.01.1969 – A primeira «Conversa em Família» de Marcelo Caetano



Quem anda por cá há muito tempo, recorda-se das célebres «Conversas em Família» (foram 16) que Marcelo Caetano dirigiu ao país entre 8 de Janeiro de 1969 e 28 de Março de 1974.

Estão agora todas online nos arquivos da RTP e quem quiser ver e ouvir a primeira, que teve lugar há exactamente 49 anos, pode encontrá-la aqui.

Deixo como «recordação» um excerto da última, de 28 de Março de 1974, já depois do golpe falhado das Caldas. Caetano não sabia – e nós também não – que nunca mais teríamos aqueles cinzentos e sinistros serões na sua companhia. Ponto final.


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Rui Rio – Registe-se para possível memória futura



Em entrevista à Rádio Renascença e ao Público:

P- Imaginemos um cenário de eleições em 2019 em que o PS ganha, mas sem maioria. Já nos disse que quer é ser primeiro-ministro, mas num cenário em que o PS se pode aliar à esquerda ou ao PSD, o que prefere?

R- Está a dizer que, de certa forma, trocamos de posição. A legitimidade que hoje o dr. António Costa não tem passaria a ter porque ganhou por poucos. Aquilo que me parece mais razoável é nós estarmos dispostos para, a nível parlamentar, suportar um Governo minoritário, seja ele qual for, neste caso o do PS. Que é aquilo que o PS deveria ter feito, suportar de forma crítica naturalmente, mas deixar passar e governar o partido mais votado.
O que aconteceu é democraticamente legítimo, constitucionalmente perfeito e legítimo, mas era mais saudável dizermos: a coligação PSD/CDSD ganhou as eleições; tal como no passado, vamos permitir que quem ganhou possa governar. Parece-me muito mais sensato do que qualquer outra situação. E o contrário também. Se, por acaso, eu ganhar as eleições, como o CDS, que é o aliado mais natural, não conseguirmos constituir uma maioria absoluta, conseguir que o Governo minoritário tenha apoio parlamentar - tal como sempre foi desde o pós-25 de Abril - para governar.
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O discurso da noite



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O derradeiro segredo de Fátima?



«Somos um povo vocacionado para os assuntos da Fé no Altíssimo. Basta um Papa visitar Fátima e a Nação ajoelha-se no altar dos sacrifícios fazendo promessas e colocando velas na pira das tristezas. Somos crentes e gostamos de transmitir a nossa Fé aos gentios descrentes, para que eles possam beneficiar das nossas bem-aventuranças. Em tempos idos, ao lado dos marinheiros, dos soldados e dos comerciantes das caravelas, nunca deixou de estar presente um prior para a colheita das almas! E também para o levantamento dos padrões.

PUB Porém, ocupados que andámos com a conversão das desvairadas gentes nas quatro partidas do Mundo, esquecemo-nos de tratar das nossas fraquezas de pecadores. Sem produção nacional fomos em demanda do Prestes João e do caminho das especiarias. O monopólio do comércio era a nossa visão. O negócio atraiu ingleses, franceses e holandeses que, em caso extremo, piratearam as nossas naus por esses mares nunca dantes navegados. Porém, o destino foi sempre cruel para as nossas aspirações imperiais e mercantis. Alcácer-Quibir não é apenas o nome da tragédia militar que antecipa a perda da independência. É também o fado de ser português! Não é segredo que a dinastia dos Braganças acabou numa poça de sangue no Terreiro do Paço pela mão da Carbonária.

A questão da Fé não é apenas religiosa. É também económica, social, política e agora, até futebolística. Depois da derrota na Taça das Confederações na Rússia, acreditar na selecção nacional campeã do Mundo em Moscovo é mesmo só uma questão de Fé em Fernando Santos. Eu acredito no Profeta!

Em termos económicos, a Fé parece ser um factor decisivo para a conversão das mentalidades pagãs dos nossos recursos humanos. Em Portugal somos pouco produtivos, dizem os entendidos. Por isso a nossa taxa de produtividade cá é baixa. No Luxemburgo somos altamente produtivos, dizem os entendidos. Por isso a nossa taxa de produtividade lá é alta. Lá fora somos bestiais, cá dentro somos bestas! Dizem eles, os entendidos. Mas qual é o segredo? Algum medicamento celestial? O Web Summit que entusiasmou os nossos intelectuais, tecnológicos? Algum animal voador?

Será que é este o derradeiro segredo de Fátima? Pedimos aos anjos e arcanjos que aceitem as nossas preces para que Portugal não fique envolto num nevoeiro mais denso do que aquele que engoliu o nosso saudoso rei D. Sebastião:

Rezemos a seguinte oração:

– Fazei que os nossos queridos turistas nunca nos abandonem
– Fazei com que o PIB voe nas alturas como Jardel no FCP
– Fazei com que as nossas reformas estejam garantidas para além de 2040
– Fazei com os nossos jovens licenciados não emigrem por falta de futuro
– Fazei com que os nossos emigrantes acreditem no nosso sistema financeiro
– Fazei que as nossas florestas não ardam ao ritmo da maratona de Lisboa
– Fazei com que o Estado não nos sobrecarregue de mais impostos
– Perdoai as nossas fraquezas e fazei-nos acreditar que é pelo trabalho árduo, gestão inovadora e investimento produtivo que alcançaremos a felicidade.»

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Qual será o último a rir...


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7.1.18

Dica (691)



Lacerda e a pilhagem dos correios (José Soeiro)


«Francisco Lacerda é um homem especial. Só pode ser um homem especial. O atual administrador dos CTT recebeu por ano 925.404 €.»
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Morreu uma menina




… que ganhou um Festival da Eurovisão com esta canção, num estranho tempo de inocência.
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Lembrar as vítimas não evita novas vítimas



«1. Com verdade ou maldade, ouvi repetir, desde há vários anos, que para os meios de comunicação, sobretudo para as televisões, os incêndios representam uma bênção. Fazem subir as audiências sem grandes custos, alimentam a morbidez pelos desastres, intoxicam o país de irremediáveis opiniões contraditórias e paralisantes. A visão dos nossos recursos, potencialidades e lacunas é substituída pelo espectáculo das chamas. Resta a conversa sobre as responsabilidades do Estado, cada vez mais diluídas e transnacionais, os interesses das empresas privadas, a desertificação do interior e os aproveitamentos partidários de circunstância. O reordenamento do território com a participação activa das populações é o tema nunca esquecido e sempre adiado. As suspeitas de fogo posto e as capacidades da lua incendiar a noite são enigmas recorrentes.

Se os meios de comunicação ajudam a fixar, em cada ano, os bodes expiatórios de serviço, não me parece que sejam eles os responsáveis pelo nevoeiro e escuridão que envolvem as explicações de um fenómeno que todos confessam ser muito complexo, acumulando anos de desatenção, que, agora, poderia ser resolvido por relatórios de alguns peritos ou por decreto presidencial ou governamental.

Antes de entrar noutras questões não posso, no entanto, evitar uma pergunta: querem os meios de comunicação contribuir para sarar as feridas das vítimas ou continuar a dificultar a sua cicatrização?

Quem se mostrou pouco convencido da eficácia da repetição das imagens da tragédia foi António Leuschner, psiquiatra e presidente da comissão de acompanhamento, na área da saúde mental, das populações afectadas pelos incêndios de Pedrógão Grande. Numa lúcida entrevista ao PÚBLICO (24.12.2017), mostrou que o excesso de manifestações emocionais, em vez de ajudar, pode dificultar a recuperação psicológica das pessoas mais afectadas. Defende atitudes de sabedoria.

“Acho bem que as pessoas não se distanciem com frieza, devem dar sinais de que estão solidárias. Mas o pior que pode haver para um decisor é deixar-se afectar demasiado pela emoção, porque corre o risco de errar. Nem oito, nem oitenta. Nem excesso de emoção nem gelo.”

Como psiquiatra, observa que, apesar de tudo, há muita gente que já deu a volta e que ninguém se suicidou. Algumas situações mais graves foram encaminhadas para a psiquiatria. Foram excepções.

António Leuschner pensa que a divulgação das circunstâncias em que 64 pessoas morreram em Pedrógão pode ter mais efeitos maléficos do que benéficos. É altamente patogénica porque desperta sentimentos que não ajudam as pessoas. Sem acusar ninguém, lembra que estar a recordar tudo passado um mês, dois, três, quatro, cinco, seis meses, não faz bem às pessoas, não contribui em nada para a felicidade de quem sofreu muito.

Este psiquiatra ainda está para perceber a importância da divulgação do famoso capítulo sexto do relatório do investigador Domingos Xavier Viegas. “Pode ter importância para a investigação, para as autoridades judiciais, para se perceber o que correu mal, mas divulgar os detalhes... confesso que ainda não consegui entender o que é que se ganha com isso. Receio que tenha mais efeitos maléficos do que benéficos.”